Em São Luís hj cerca de 15 mil pessoas foram às ruas manifestar por melhorias na saúde, educação, segurança, transporte, dentre outras reivindicações. O protesto foi bonito, pacífico e ganhou a adesão de milhares de pessoas. Pelo menos naquele momento o povo tomou a ponte José Sarney (São Francisco).
Algumas fotos (fonte: reprodução Facebook).
E esse texto abaixo é bem esclarecedor:
"Todos
estes movimentos, como todos os movimentos sociais na história, são
principalmente emocionais, não são pontualmente indicativos. Em São
Paulo, não é sobre o transporte. Em algum momento, há um fato que traz à
tona uma indignação maior. Por isso, meu livro se chama REDES de
indignação e de esperança. O fato
provoca a indignação e, então, ao sentirem a possibilidade de estarem
juntos, ao sentirem que muitos que pensam o mesmo fora do quadro
institucional, surge a esperança de fazer algo diferente. O quê? Não se
sabe, mas seguramente não é o que está aí. Porque, fundamentalmente, os
cidadãos do mundo não se sentem representados pelas instituições
democráticas. Não é a velha história da democracia real, não. Eles são
contra esta precisa prática democrática em que a classe política se
apropria da representação, não presta contas em nenhum momento e
justifica qualquer coisa em função dos interesses que servem ao Estado e
à classe política, ou seja, os interesses econômicos, tecnológicos e
culturais. Eles não respeitam os cidadãos. É esta a manifestação. É isso
que os cidadãos sentem e pensam: que eles não são respeitados.
Então, quando há qualquer pretexto que possa unir uma reação coletiva,
concentram-se todos os demais. É daí que surge a indicação de todos os
motivos - o que cada pessoa sente a respeito da forma com que a
sociedade em geral, sobretudo representada pelas instituições políticas,
trata os cidadãos. Junto a isso, há algo a mais. Quando falo do espaço
público, é o espaço em que se reúne o público, claro. Mas, atualmente,
esse espaço é o físico, o urbano, e também o da internet, o ciberespaço.
É a conjunção de ambos que cria o espaço autônomo. Porém, o espaço
físico é extremamente importante, porque a capacidade do contato pessoal
na grande metrópole está sendo negada constantemente. Há uma
destituição sistemática do espaço público da cidade, que está sendo
convertido em espaço comercial. Shopping centers não são espaços
públicos, são espaços privados organizando a interação das pessoas em
direção a funções comerciais e de consumo. Os cidadãos resistem a
isso.(...)
O direito, como disse Henri Lefebvre, de se reunir e
ocupar um espaço sem ter que pagar, sem ter que consumir ou pedir
permissão a autoridades. Por isso, tenta-se ultrapassar a lógica da
liberdade na internet à liberdade no espaço urbano.
Eu não posso
opinar diretamente sobre os movimentos que estão acontecendo neste
momento aqui em São Paulo, mas há algumas características de tentar
manifestar que a cidade é dos cidadãos. E este é o elemento fundamental
em todas as manifestações que eu observei no mundo.
O que muda
atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de informação,
auto-organização e automobilização que não existia. Antes, se estavam
descontentes, a única coisa que podiam fazer era ir diretamente para uma
manifestação de massa organizada por partidos e sindicatos, que logo
negociavam em nome das pessoas. Mas, agora, a capacidade de
auto-organização é espontânea. Isso é novo e isso são as redes sociais. E
o virtual sempre acaba no espaço público. Essa é a novidade. Sem
depender das organizações, a sociedade tem a capacidade de se organizar,
debater e intervir no espaço público."
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Manuel Castells é Sociólogo espanhol
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