sábado, 8 de junho de 2013

Alceu e Geraldo hoje em São Luís





Dois ícones da música popular brasileira se apresentarão hoje para alegria dos fãs. Geraldo Azevedo (foto) e Alceu Valença chegam para abrir a temporada junina de São Luís em dois grandes shows logo mais no Espaço Reserva (ao lado do Shopping da Ilha). A festa terá início às 21h com a discotecagem de Glaydson Botelho, e em seguida haverá o bailado encantador do Boi de Nina Rodrigues.
Quem subirá ao palco primeiro será o cantor pernambucano Geraldo Azevedo que fará um show de voz e violão relembrando grandes sucessos da sua carreira e que fazem parte do imaginário da música brasileira, como Dia Branco, Moça Bonita, Caravana, Táxi Lunar, Talismã, Letras Negras, Príncipe Brilhante, entre outras.
Já Alceu Valença apresentará show com a banda formada por Paulo Rafael (guitarra e violão), Tovinho (teclados), André Julião (sanfona), Nando Barreto (baixo), Cássio Cunha (bateria), em que mostrará o melhor de seu repertório de xotes, forrós, baiões, toadas e emboladas. O sanfoneiro André Julião, de Caruaru (PE), tocou na banda de Silvério Pessoa e participou do filme, A Luneta do Tempo, escrito e dirigido por Alceu Valença. Nessa perspectiva de dar uma mão aos jovens artistas, em 2012, Alceu convidou a sanfoneira e vocalista Lucy Alves, do grupo Clã Brasil, de João Pessoa (PB) - com quem percorreu 30 cidades de norte a sul do país no show que celebrava o centenário de Gonzaga.
“O público de São Luís vai assistir a um show repleto de brasilidade, com muita energia e pleno de identidade nordestina. São xotes, baiões, forrós, cocos e emboladas, gêneros que caracterizam por excelência as festas juninas do Nordeste. E não podem faltar músicas como Coração Bobo, Táxi Lunar, Tropicana, Anunciação, Embolada do Tempo, além de músicas do repertório de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Alô São Luís, me aguarde que eu estou chegando!”, convida Alceu, em entrevista a O Imparcial.
Algumas das canções desses pilares da construção da identidade musical nordestina que estarão no repertório de Alceu, são: Baião, Xote das Meninas, Vem Morena, Sabiá, Juazeiro, O canto da Ema.
Alceu começou a turnê Nordestina de 2013 em Teresina (PI). Depois de São Luís ele segue para Recife-PE (16/06), Vitória da Conquista-BA (19/06), Amargosa-BA (20/06), Salvador-BA(21/06), Costa do Sauípe-BA (22/06), Imbassahy-BA (23/06), Cachoeira-BA (24/06) e Arco Verde-PE(29/06).
O cantor conversou com O Imparcial e falou de vários assuntos como do tempo em que ele exercia a profissão de jornalista, da parceria com Geraldo Azevedo, da sua relação com as gravadoras, sobre o filme A Luneta do Tempo que levou 12 anos para ser escrito, e ainda sobre a série Pelas Ruas Que Andei e a vontade de gravar um episódio em São Luís.



Entrevista – Alceu Valença

OI- Alceu  suas músicas estão sempre na mídia, mas nem sempre foi assim. Você acha que hoje está mais fácil produzir música no Brasil?
AV – Naturalmente, hoje existe uma facilidade maior para se produzir música. O acesso aos meios de produção ficou mais viável, os custos caíram, a tecnologia está ao alcance de todos.  Por conta disso, houve uma relativa descentralização e uma abertura maior para os músicos registrarem seus trabalhos sem depender tanto da estrutura de uma gravadora. A internet também é uma novidade interessante neste sentido. Entretanto, o acesso aos grandes veículos de comunicação ficou mais complicado. A estrutura ficou muito padronizada e a qualidade artística do que aparece na mídia é quase sempre duvidosa.

OI- E qual a  sua relação com as gravadoras?
AV – Minha relação com as gravadoras nunca foi das mais tranquilas. Passei por várias delas e briguei com quase todas (risos). Sempre tive controle sobre minha produção e jamais permiti que um diretor artístico determinasse os rumos da minha arte. Quando gravei meu primeiro disco, em dupla com Geraldo Azevedo, o diretor da gravadora queria que fizéssemos uma música ao estilo de “Você abusou”, de Antonio Carlos & Jocafi, uma ótima dupla que fazia bastante sucesso na época. Eu era totalmente desconhecido, mas respondi na lata: “Agora você abusou, senhor diretor. Alceu e Valença e Geraldo Azevedo têm estilo próprio!”. Sempre achei que o artista que imita outro artista acaba virando carne de segunda e penso assim até hoje. Teve diretor de gravadora que queria que eu gravasse música brega e eu jamais aceitei este tipo de imposição. Isso me causou alguns problemas até para manter meus discos em catálogo. Felizmente isso está mudando. A Universal acaba de lançar uma caixa com três discos que estavam inéditos até hoje: “Cinco Sentidos”, “Anjo Avesso” e “Mágico”. A repercussão está sensacional.

OI- Qual a sua opinião sobre a música que é produzida hoje e que ganha a grande mídia?
AV – Tem muita gente fazendo música de qualidade no Brasil. Como disse antes, o problema é o acesso à grande mídia. Infelizmente, o que prepondera são manifestações de uma maneira geral muito pasteurizadas. Mas o artista verdadeiro, o artista de alma, este sempre existirá. É como eu sempre digo: precisamos valorizar mais o ponto-de-vista que o ponto-de-venda.

OI- Você costuma acompanhar o que esses novos músicos tem lançado?
AV – Na verdade, escuto muito pouca música. Mas procuro me manter atualizado pela internet ou pelas cada vez mais raras rádios dedicadas à MPB. Penso que música brasileira é aquela que se faz no Brasil e em mais nenhum outro lugar. Por exemplo, se eu vou ao restaurante japonês e peço um sushi, eu estarei provando a culinária japonesa, mesmo que o sushiman seja cearense, pernambucano ou maranhense. Com a música, acontece algo semelhante. Se eu fizer um blues, e eu faço blues de vez em quando, tenho consciência de que estou fazendo música americana, ainda que o meu sotaque seja brasileiro, nordestino, equatorial. Acredito na identidade, na verdade do artista. Quando identifico isso em um jovem talento, passo a gostar imediatamente.

OI- Forró, xote, baião, algum artista da nova geração tem chamado sua atenção?
AV – Tem muita gente boa espalhada por este país. Dos novíssimos nomes que têm me chamado a atenção nestes estilos, posso destacar a sanfoneira e cantora Lucy Alves (do grupo Clã Brasil, de João Pessoa), que participou de minha turnê em homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga, no ano passado, e que participa do meu show acústico. Posso citar também o ator, cantor e sanfoneiro Ari de Arimateia, de Recife, e a cantora Khrystall, de Natal, que estão no meu filme “A Luneta do Tempo”, todos jovens e genuínos talentos nordestinos que o Brasil precisa conhecer.

OI - E por falar em Luneta do Tempo, o que esse filme revela de você?
AV - Comecei a escrever o texto do filme como um poema de cordel, logo depois da morte de meu pai, como um mergulho na minha identidade, nas minhas raízes. Tempos depois, mostrei o texto ao Waltinho Carvalho, que me disse: “Alceu, isso é cinema!”. E ele me convenceu de que eu deveria fazer um filme. Quando decido fazer alguma coisa, vou fundo, entro de cabeça, trabalho com obstinação. Passei a ter aulas de roteiro, mudei minha maneira de ver cinema, compreendi como a coisa funcionava tecnicamente, assisti a centenas de filmes brasileiros e internacionais. Vivenciei tanto o cinema que meu filho Rafael, de 11 anos, já decidiu tornar-se cineasta (risos). Ele rodou um curta em digital que pode ser visto no You Tube, chamado “As Quatro Estações”. Assim como o pai, ele gosta de fazer tudo. Dirigiu, atuou, cuidou da produção, da edição. Eu fiz uma participação como ator. Não sei se farei outro filme depois da “Luneta do Tempo”, mas posso afirmar que, depois desta experiência, o cinema entrou definitivamente na minha vida.

OI - Você trabalha nele há 12 anos.  Por que esse tempo todo?
AV - Levei doze anos para escrever a história, sou muito detalhista e quis acabar o filme com toda a calma. Rodamos em duas fases, a primeira em dezembro de 2009, em localidades próximas a São Bento do Una, e a segunda, em Nova Jerusalém, em 2011. O filme tem Irandhir Santos e Hermila Guedes, nos papéis principais, além de atores respeitados, como Jones Melo e Helder Vasconcelos. E revela muita gente boa, como o ator, cantor e sanfoneiro Ari de Arimateia, os atores Charles Theony, Ceceu (meu filho), Tito Lívio e Khrystal.  Fiz roteiro, direção, montagem, produção musical. Compus mais de 80 músicas para a trilha sonora e atuei. Foi uma experiência muito gratificante, mas que também exigiu uma entrega obstinada.  O resultado, vocês vão ver em breve.

OI - Qual a sua relação com a internet, as redes sociais, você lança mão dos recursos que as novas tecnologias oferecem?
AV - Eu adoro conversar com os fãs nas redes sociais. Gosto de compartilhar ideias, filosofar, manifestar minhas impressões sobre os assuntos da vida brasileira ou pequenos eventos cotidianos comuns a cada um de nós. Uma das atividades a que me dedico com mais prazer atualmente é participar das microsséries audio-visuais que disponibilizamos em meu Facebook (www.facebook.com/alceuvalenca) e no meu site (www.alceuvalenca.com.br). Primeiro foi “Cantando no Banheiro”, onde canto acompanhado por meu violão nos banheiros dos hotéis em que me hospedo nas turnês por todo o Brasil e no exterior. Fizemos os “Pecados Capitais”, onde interpreto, com muito bom humor, os citados pecados bíblicos, em minha casa de Olinda. Agora estamos lançando a série “Pelas Ruas Que Andei”, onde apareço declamando meus versos em ruas de Lisboa, Paris, Olinda, na fazenda Riachão onde nasci, em São Bento do Una, em toda parte. Quero fazer um episódio em São Luís!

OI – Legal. Você exerceu a profissão de jornalista, mas por que largou a carreira?
AV - Me formei na Faculdade de Direito do Recife, mas exerci a profissão por pouco tempo. Em seguida, estagiei como jornalista nas Revistas Bloch e na sucursal do Jornal do Brasil, em Recife, pois ainda não havia a exigência do diploma. Queria ser cronista, como Rubem Braga, mas quando eu ainda estava nas redações surgiu a lei que obrigava o sujeito a ter diploma para escrever em jornais e revistas e eu abandonei o ofício. Pouco depois, comecei a despontar em festivais, fui para o Rio tentar a carreira de artista e sigo nela até hoje, com shows sempre lotados em todo o país e no exterior.

Fotos: Divulgação/Assessoria

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