Dois
ícones da música popular brasileira se apresentarão hoje para
alegria dos fãs. Geraldo Azevedo (foto) e Alceu Valença chegam para abrir a temporada
junina de São Luís em dois grandes
shows logo mais no Espaço Reserva (ao lado do Shopping da Ilha). A
festa terá início às 21h com a discotecagem de Glaydson Botelho, e em seguida haverá
o bailado encantador do Boi de Nina Rodrigues.
Quem
subirá ao palco primeiro será o cantor pernambucano Geraldo Azevedo que fará um
show de voz e violão relembrando grandes sucessos da sua carreira e que fazem
parte do imaginário da música brasileira, como Dia Branco, Moça Bonita, Caravana, Táxi Lunar, Talismã, Letras Negras, Príncipe Brilhante, entre outras.
Já
Alceu Valença apresentará show com a banda formada por Paulo Rafael (guitarra e
violão), Tovinho (teclados), André Julião (sanfona), Nando Barreto (baixo),
Cássio Cunha (bateria), em que mostrará o melhor de seu repertório de xotes,
forrós, baiões, toadas e emboladas. O sanfoneiro André Julião, de Caruaru (PE),
tocou na banda de Silvério Pessoa e participou do filme, A Luneta do Tempo, escrito e dirigido por Alceu Valença. Nessa
perspectiva de dar uma mão aos jovens artistas, em 2012, Alceu convidou a
sanfoneira e vocalista Lucy Alves, do grupo Clã Brasil, de João Pessoa (PB) -
com quem percorreu 30 cidades de norte a sul do país no show que celebrava o
centenário de Gonzaga.
“O
público de São Luís vai assistir a um show repleto de brasilidade, com muita
energia e pleno de identidade nordestina. São xotes, baiões, forrós, cocos e
emboladas, gêneros que caracterizam por excelência as festas juninas do
Nordeste. E não podem faltar músicas como Coração
Bobo, Táxi Lunar, Tropicana, Anunciação, Embolada do Tempo, além de músicas
do repertório de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Alô São Luís, me aguarde
que eu estou chegando!”, convida Alceu, em entrevista a O Imparcial.
Algumas
das canções desses pilares da construção da identidade musical nordestina que
estarão no repertório de Alceu, são: Baião,
Xote das Meninas, Vem Morena, Sabiá, Juazeiro, O canto da Ema.
Alceu
começou a turnê Nordestina de 2013 em Teresina (PI). Depois de São Luís ele
segue para Recife-PE (16/06), Vitória da Conquista-BA (19/06), Amargosa-BA
(20/06), Salvador-BA(21/06), Costa do Sauípe-BA (22/06), Imbassahy-BA (23/06),
Cachoeira-BA (24/06) e Arco Verde-PE(29/06).
O
cantor conversou com O Imparcial e falou de vários
assuntos como do tempo em que ele exercia a profissão de jornalista, da
parceria com Geraldo Azevedo, da sua relação com as gravadoras, sobre o filme A Luneta do Tempo que levou 12 anos para
ser escrito, e ainda sobre a série Pelas
Ruas Que Andei e a vontade de gravar um episódio em São Luís.
Entrevista – Alceu Valença
OI- Alceu
suas músicas estão sempre na mídia, mas nem sempre foi assim. Você acha
que hoje está mais fácil produzir música no Brasil?
AV – Naturalmente, hoje existe uma
facilidade maior para se produzir música. O acesso aos meios de produção ficou
mais viável, os custos caíram, a tecnologia está ao alcance de todos. Por conta disso, houve uma relativa
descentralização e uma abertura maior para os músicos registrarem seus
trabalhos sem depender tanto da estrutura de uma gravadora. A internet também é
uma novidade interessante neste sentido. Entretanto, o acesso aos grandes
veículos de comunicação ficou mais complicado. A estrutura ficou muito
padronizada e a qualidade artística do que aparece na mídia é quase sempre
duvidosa.
OI- E qual a sua relação com as gravadoras?
AV – Minha relação com as gravadoras
nunca foi das mais tranquilas. Passei por várias delas e briguei com quase
todas (risos). Sempre tive controle sobre minha produção e jamais permiti que
um diretor artístico determinasse os rumos da minha arte. Quando gravei meu
primeiro disco, em dupla com Geraldo Azevedo, o diretor da gravadora queria que
fizéssemos uma música ao estilo de “Você abusou”, de Antonio Carlos &
Jocafi, uma ótima dupla que fazia bastante sucesso na época. Eu era totalmente
desconhecido, mas respondi na lata: “Agora você abusou, senhor diretor. Alceu e
Valença e Geraldo Azevedo têm estilo próprio!”. Sempre achei que o artista que
imita outro artista acaba virando carne de segunda e penso assim até hoje. Teve
diretor de gravadora que queria que eu gravasse música brega e eu jamais
aceitei este tipo de imposição. Isso me causou alguns problemas até para manter
meus discos em catálogo. Felizmente isso está mudando. A Universal acaba de
lançar uma caixa com três discos que estavam inéditos até hoje: “Cinco
Sentidos”, “Anjo Avesso” e “Mágico”. A repercussão está sensacional.
OI- Qual a sua opinião sobre a música que é
produzida hoje e que ganha a grande mídia?
AV – Tem muita gente fazendo música de
qualidade no Brasil. Como disse antes, o problema é o acesso à grande mídia.
Infelizmente, o que prepondera são manifestações de uma maneira geral muito pasteurizadas.
Mas o artista verdadeiro, o artista de alma, este sempre existirá. É como eu
sempre digo: precisamos valorizar mais o ponto-de-vista que o ponto-de-venda.
OI- Você costuma acompanhar o que esses
novos músicos tem lançado?
AV – Na verdade, escuto muito pouca
música. Mas procuro me manter atualizado pela internet ou pelas cada vez mais
raras rádios dedicadas à MPB. Penso que música brasileira é aquela que se faz
no Brasil e em mais nenhum outro lugar. Por exemplo, se eu vou ao restaurante
japonês e peço um sushi, eu estarei
provando a culinária japonesa, mesmo que o sushiman
seja cearense, pernambucano ou maranhense. Com a música, acontece algo
semelhante. Se eu fizer um blues, e eu faço blues de vez em quando, tenho
consciência de que estou fazendo música americana, ainda que o meu sotaque seja
brasileiro, nordestino, equatorial. Acredito na identidade, na verdade do
artista. Quando identifico isso em um jovem talento, passo a gostar
imediatamente.
OI- Forró, xote, baião, algum artista da
nova geração tem chamado sua atenção?
AV – Tem muita gente boa espalhada por
este país. Dos novíssimos nomes que têm me chamado a atenção nestes estilos,
posso destacar a sanfoneira e cantora Lucy Alves (do grupo Clã Brasil, de João
Pessoa), que participou de minha turnê em homenagem ao centenário de Luiz
Gonzaga, no ano passado, e que participa do meu show acústico. Posso citar
também o ator, cantor e sanfoneiro Ari de Arimateia, de Recife, e a cantora
Khrystall, de Natal, que estão no meu filme “A Luneta do Tempo”, todos jovens e
genuínos talentos nordestinos que o Brasil precisa conhecer.
OI - E por falar em Luneta do Tempo, o que esse filme revela de você?
AV - Comecei a escrever o texto do
filme como um poema de cordel, logo depois da morte de meu pai, como um
mergulho na minha identidade, nas minhas raízes. Tempos depois, mostrei o texto
ao Waltinho Carvalho, que me disse: “Alceu, isso é cinema!”. E ele me convenceu
de que eu deveria fazer um filme. Quando decido fazer alguma coisa, vou fundo,
entro de cabeça, trabalho com obstinação. Passei a ter aulas de roteiro, mudei
minha maneira de ver cinema, compreendi como a coisa funcionava tecnicamente,
assisti a centenas de filmes brasileiros e internacionais. Vivenciei tanto o
cinema que meu filho Rafael, de 11 anos, já decidiu tornar-se cineasta (risos).
Ele rodou um curta em digital que pode ser visto no You Tube, chamado “As
Quatro Estações”. Assim como o pai, ele gosta de fazer tudo. Dirigiu, atuou,
cuidou da produção, da edição. Eu fiz uma participação como ator. Não sei se
farei outro filme depois da “Luneta do Tempo”, mas posso afirmar que, depois
desta experiência, o cinema entrou definitivamente na minha vida.
OI - Você trabalha nele há 12 anos. Por que esse tempo todo?
AV - Levei doze anos para escrever a
história, sou muito detalhista e quis acabar o filme com toda a calma. Rodamos
em duas fases, a primeira em dezembro de 2009, em localidades próximas a São
Bento do Una, e a segunda, em Nova Jerusalém, em 2011. O filme tem Irandhir
Santos e Hermila Guedes, nos papéis principais, além de atores respeitados,
como Jones Melo e Helder Vasconcelos. E revela muita gente boa, como o ator,
cantor e sanfoneiro Ari de Arimateia, os atores Charles Theony, Ceceu (meu
filho), Tito Lívio e Khrystal. Fiz
roteiro, direção, montagem, produção musical. Compus mais de 80 músicas para a
trilha sonora e atuei. Foi uma experiência muito gratificante, mas que também
exigiu uma entrega obstinada. O
resultado, vocês vão ver em breve.
OI - Qual a sua relação com a internet, as redes
sociais, você lança mão dos recursos que as novas tecnologias oferecem?
AV - Eu adoro conversar com os fãs nas
redes sociais. Gosto de compartilhar ideias, filosofar, manifestar minhas
impressões sobre os assuntos da vida brasileira ou pequenos eventos cotidianos
comuns a cada um de nós. Uma das atividades a que me dedico com mais prazer
atualmente é participar das microsséries audio-visuais que disponibilizamos em
meu Facebook (www.facebook.com/alceuvalenca) e no meu site
(www.alceuvalenca.com.br). Primeiro foi “Cantando no Banheiro”, onde canto
acompanhado por meu violão nos banheiros dos hotéis em que me hospedo nas
turnês por todo o Brasil e no exterior. Fizemos os “Pecados Capitais”, onde
interpreto, com muito bom humor, os citados pecados bíblicos, em minha casa de
Olinda. Agora estamos lançando a série “Pelas Ruas Que Andei”, onde apareço
declamando meus versos em ruas de Lisboa, Paris, Olinda, na fazenda Riachão
onde nasci, em São Bento do Una, em toda parte. Quero fazer um episódio em São
Luís!
OI –
Legal. Você exerceu a profissão de
jornalista, mas por que largou a carreira?
AV - Me formei na Faculdade de Direito
do Recife, mas exerci a profissão por pouco tempo. Em seguida, estagiei como
jornalista nas Revistas Bloch e na sucursal do Jornal do Brasil, em Recife,
pois ainda não havia a exigência do diploma. Queria ser cronista, como Rubem
Braga, mas quando eu ainda estava nas redações surgiu a lei que obrigava o
sujeito a ter diploma para escrever em jornais e revistas e eu abandonei o ofício.
Pouco depois, comecei a despontar em festivais, fui para o Rio tentar a
carreira de artista e sigo nela até hoje, com shows sempre lotados em todo o
país e no exterior.
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