Foi
despretensiosa, bem humorada (como sempre) e orgulhosa pelo momento em que está
vivendo, que a sambista Patativa nos recebeu para um bate-papo sobre o primeiro
CD da carreira em 75 anos de idade. “Até que enfim”, ela ria e comentava
enquanto se revezava entre momentos de timidez e euforia. “Timidez”? Alguém
perguntaria. Sim. Para falar sobre o próprio trabalho a compositora prefere que
os outros falem. “Diz aí Luiz Júnior!”, pede ela.
A reportagem
conversou com Patativa, que na verdade se chama Maria do Socorro Silva, e com o
músico Luiz Júnior, que assina a direção geral e artística do CD da sambista, e
que está sendo gravado no Sonora Estúdio. Patativa
Canta sua História vem com quatorze faixas, todas autorais.
Autora de pelo
menos 100 composições, a maioria com
letras engraçadas, irreverentes e
com duplo sentido, como Xiri Meu
famosa nas rodas de samba do bairro da Madre Deus e da Feira da Praia Grande.
Quero saber de Patativa como se deu o processo de escolha das músicas.
“Coloquei as que eu me lembrava. Fui lembrando, fui cantando para Luiz Júnior e
ele foi gravando”, diz ela.
Detalhe:
muitas de suas músicas são guardadas apenas na memória. Pergunto se ela não
escreve, anota... “Algumas sim, outras não. A única forma de deixar isso
gravado vai ser fazer outro disco, porque esse só cabe quatorze músicas. Vai
ser o jeito” (risos). Patativa compõe samba, marchinhas, xote, baião, cacuriá,
boi, entre outros ritmos. “A inspiração vem normalmente. Não há uma fórmula, quando
vem, vem”, diz.
Dentre as canções que compõe o disco estão: Babado da Favela, Erva Cidreira, Negro não é mais Escravo, Quebrei meu Tamborim, Santo
Guerreiro, Rainha, Quem Diria, Colher de Chá, Negro Samba, Ninguém é melhor
do que eu, Rosinha, Samba dos Seis, Saudade do meu bem querer, Urubu não come
folha. Será um disco de samba, mas que Luiz Júnior promete incorporar
elementos que o tornem universal.
“Acho que
seria muito óbvio se fizesse um CD só com o ritmo dos Fuzileiros (Fuzileiros da
Fuzarca), que é uma das paixões da Patativa. Então preservei essa batucada, ela
estará presente, mas eu quis colocar elementos do samba do Maranhão, do samba
carioca, partido alto, da nossa cultura popular, como tambor de mina, bloco
tradicional, já que ela é uma compositora polivalente. Tive toda uma
preocupação para ter um olhar mais amplo com relação ao trabalho dela, que é
uma figura da cultura popular”, argumenta Luiz Júnior.
O CD está em
fase de finalização (mixagem e
masterização) e deve ser lançado ainda este ano em um grande festa na Madre
Deus, bairro onde Patativa se sente em casa, embora não more mais lá. Em uma
entrevista que fiz com ela no ano passado, quando da sua participação no
projeto Embolada das Artes, a sambista revelou uma frustração. Com uma
espontaneidade assustadora Patativa se lamentava. “Não quero morrer sem gravar
um ‘cedesinho’. Mas até agora nada”. E agora, com o trabalho praticamente
pronto, ela sente que vai se emocionar. “Já estou me emocionando. Estou achando
ótimo ir gravar, cantar minhas músicas, e eu sei que agora já quero fazer o
próximo”, diz ela com um largo sorriso.
Segundo Luiz
Júnior, a intenção é fazer o lançamento na Madre Deus em local aberto ao
público. Ele que também está produzindo o CD da cantora Célia Maria, acredita
que seria uma boa oportunidade de fazer um lançamento duplo. “São duas grandes
mulheres da nossa música e que merecem um grande acontecimento, uma grande
festa do samba. Vamos trabalhar para isso”, aposta o produtor.
“Sou escandalosa desde sempre”
O CD de
Patativa, segundo ela conta, já está sendo uma grande alegria. Principalmente
por que ela não foi chamada para participar do CD do bloco Fuzileiros da
Fuzarca, lançado durante o carnaval deste ano. Integrante do grupo desde o
tempo em que a participação de mulheres não era permitida, Patativa diz que
ficou triste por não ter sido chamada. “Nem para fazer o coro. Mas tem nada não
(risos). Agora tenho um CD só meu”, comemora.
Entre uma
conversa e outra Patativa solta algumas pérolas e lembra de histórias engraçadas
em que palavras impublicáveis sempre são faladas. “Sou escandalosa desde
sempre. Sou assim desde criança. É o meu jeito. Certa vez fui convidada a
participar de um show e o povo pedia para eu cantar Xiri Meu, porque o povo pede por aí tudo, mas o dono do show não
gostou e disse que não me convidava mais para cantar no show dele”, desdenha.
O nome
Patativa nasceu de uma brincadeira quando era adolescente. Ela conta que ao
apelidar um colega de “amigo da onça”, ouviu do mesmo: “E tu que é uma Patativa,
que vive cantando?”. “Eu não gostei, fiquei brava, e aí quando a gente não
gosta é que o apelido pega. Hoje eu já gosto”, lembra.
Sobre o
trabalho com Luiz Júnior, só sobram elogios um ao outro. “Eu já ouvi muito
falar de Júnior e sei que ele vai fazer um bom trabalho. É um menino
inteligente”, diz ela. Já Luiz Júnior conta que sempre admirou o trabalho dela
e assistiu a apresentação dela diversas vezes em alguns shows em que ela
participava como convidada. “Acompanho o trabalho dela, sempre a vi passar no
Fuzarca e para mim é uma grande honra, um sonho realizado, afinal ela é uma das
grandes figuras do Maranhão, da cultura popular. É brincalhona, mas na hora de
trabalhar é super profissional”, elogia.
CD Patativa Canta sua História
1.Babado da
Favela
2.Erva
Cidreira
3.Negro não é
mais Escravo
4.Quebrei meu
Tamborim
5.Santo
Guerreiro
6.Rainha
7.Quem Diria
8.Colher de
Chá
9.Negro Samba
10.Ninguém é
melhor do que eu
11.Rosinha
12.Samba dos
Seis
13.Saudade do
meu bem querer
14.Urubu não
come folha
Ficha Técnica
Direção geral:
Luiz Júnior
Capa: Cláudio
Lima
Percussão:
Wanderson Silva
Bateria:
George Gomes
Contrabaixo:
Edílson Gusmão
Sax
(participação especial): Sávio Araújo
Bandolim:
Wendell Cosme
Violão 7
Cordas, banjo e cavaquinho: Luiz Júnior
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