Filósofo
de padaria ou de boteco, como ele mesmo se define, não importa. O cantor,
compositor e escritor Zeca Baleiro vem a São Luís para lançar A Rede Idiota e Outros Textos (Editora
Reformatório, 2014) e o CD infantil Zoró [bichos esquisitos]. Em
A Rede... Zeca revela sua visão particular de mundo em uma mistura de crítica, reflexões
e filosofias. Baleiro é mais um ilustre
convidado da 8ª Feira do Livro de São Luis e hoje apresentou e autografou suas mais recentes obras,
no Espaço Café Literário, no Convento das Mercês (Desterro).
Segundo
ele, A Rede Idiota e Outros Textos é
uma mistura de crítica, reflexões e filosofias. A
primeira parte foca em 50 textos escritos por ele entre 2008 e 2013 em sua
coluna na revista IstoÉ. A segunda, destaca questões sobre o mundo da música e
é uma compilação do material publicado originalmente no blog Questões Musicais,
da revista Piauí. O terceiro capítulo traz textos esparsos que saíram em
diversos jornais e revistas, como Correio Braziliense e Folha de S. Paulo. E
finalmente, o último (desta obra, claro), contém textos inéditos, exclusivos
para o livro, de livres e breves
reflexões e pensamentos do autor sobre
arte, riqueza, fanatismo, sofisticação...e outros temas. No total a obra traz
86 textos em 224 páginas.
Em
entrevista a O Imparcial Baleiro
falou sobre os dois lançamentos e ainda sobre política, música, claro e suas
impressões sobre o mercado musical. “A
Rede Idiota é o título de um dos textos. Eu o escolhi porque acho forte,
emblemático, diz muito sobre o teor do livro, porque grande parte dos textos é
sobre a nossa relação com a tecnologia hoje em dia, sobre as benesses e as
mazelas advindas disso”, diz Baleiro.
A
apresentação do livro fica a cargo de Chico César, que destaca Zeca como “um
leitor voraz, noveleiro assumido, ex-católico que sabe de cor as músicas de
Padre Zezinho e os sotaques de boi do Maranhão, sua terra natal”. Em outro
momento escreve: “Ter suas crônicas reveladas em um livro é um privilégio para
nosso tempo, pois ele é sobre sua reflexão...”.
O
pensamento crítico e a inquietação do autor estão impressos na obra. Pergunto
se é sua marca. “Acho que sim. Com a vida, com o rumo do mundo, com o destino
dos meus filhos, com o destino da arte num mundo cada vez mais mercantilista...
Enfim, as inquietações que todo mortal ‘normal’ deveria ter, acho eu. Mas impressas sempre com humor e
leveza. Sem perder a ternura (risos)”.
Textos
curtos e densos, características de quem escreve com propriedade dão a tônica
do livro. Em Ilha de Maré (pág. 183)
Zeca fala de São Luís, da poesia, dos becos e vielas, das comidas e bebidas
típicas, de personagens da histórica Praia Grande, das lendas, pontos
turísticos, do mar, do reggae, da cultura, e discorre tudo isso, deixando
explícito um convite ao Maranhão. E, claro, um convite à boa leitura.
Entrevista
Zeca Baleiro
Houve um critério para selecionar os textos
do livro?
É
uma coletânea composta especialmente das crônicas que escrevi para a
revista IstoÉ, mas lá estão também outros textos que fiz para outras
revistas e publicações, como o blog Questões Musicais, da revista piauí, mais Correio
Braziliense, Folha de S. Paulo e Revista Globo Rural. Escrevi outros
textos especialmente pro livro também. Tive vontade de publicar os textos que
julgava mais pertinentes e atuais. Assim nasceu a ideia deste livro, que é o
segundo que publico. O primeiro se chamou Bala
na Agulha (reflexões de boteco, pastéis de memória e outras frituras) e foi
lançado em 2010.
Não bastasse ter espaço na música, com mais
essa obra você vai ganhando também espaço na literatura. Há uma preferência maior
por uma ou outra arte?
São meios muito diferentes, embora a
canção tenha origem literária também. Mas são, digamos, suportes muito
distintos. O que têm em comum é o ímpeto criador, esse é o mesmo. Mas não sei
se o que faço já pode ser chamado de literatura (risos).
Qual sua avaliação sobre o que esta na
mídia atualmente?
O
que está na “mídia” nem sempre reflete a produção cultural do momento (ou quase
nunca). Há uma música fantástica sendo produzida em guetos e nichos que o
grande público desconhece. Há escassez de meios de difusão e divulgação pra
tanta produção. E talvez falte um pouco de curiosidade no grande público
também.
Sobre o disco infantil, era um desejo fazê-lo?
Com
o nascimento da minha primeira filha, Vitória, hoje com 16 anos, e depois
Manuel, hoje com 14, passei a compor compulsivamente canções de cunho infantil
e a acalentar a ideia de gravar o disco.
A temática da Feira do Livro este ano é a
literatura infantil. Tem planos de escrever para esse público também?
Já
escrevi um texto infantil para teatro, que foi encenado em SP em 2010 e deve
ser publicado ano que vem pela Cia. das Letrinhas - Quem tem Medo de Curupira?. Escrevi com 21 anos, quando ainda
morava em São Luís. No começo da carreira eu trabalhei fazendo trilhas pra
teatro infantil, com o grupo Ganzola, do diretor Lio Ribeiro, e também com o
saudoso Beto Bittencourt, no seu Gran Circo Pirilampo, teatro de bonecos. Foram
meus primeiros trabalhos remunerados (risos).
A campanha eleitoral foi marcada por muita
polêmica, xingamentos nas redes sociais, debates excessivos. Qual a sua
avaliação sobre os rumos que tomaram a campanha?
A
campanha foi belicosa e os debates de baixo nível. Mas agora estamos já em
outro momento e espero que toda essa besteirada separatista e preconceituosa
que rolou seja posta na conta do calor da refrega. É hora de arregaçar as
mangas e trabalhar, tem muito a ser feito. E nós todos, como cidadãos, temos
que participar dessa construção - cobrando, criticando, atuando e, sobretudo,
sendo independentes diante do poder institucional.
E o que você espera desse novo mandato que
se inicia em 2015?
Trabalho
e vontade política. Há muito por fazer.
Que balas você tem na agulha atualmente?
Para
o ano que vem tem o DVD Zoró [bichos
esquisitos] com 11 animações, o programa de tv Baile do Baleiro, um musical sobre Nelson Rodrigues e o DVD em que
eu canto músicas do Zé Ramalho.
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