O cineasta maranhense Marcos Ponts teve
recentemente seu filme, o curta-metragem Macapá,
indicado a vários festivais de cinema, dentre eles, o cobiçado Festival de
Cinema de Gramado (RS) que está na 43ª edição e acontece entre os dias 7 e 15
de agosto. Macapá figura entre os 15
selecionados para a mostra competitiva de curtas-metragens brasileiros dentre
produções de outros seis estados brasileiros (São Paulo, Rio Grande do Sul,
Mato Grosso, Bahia, Pernambuco e Rio
Grande do Norte), de um total de 567 filmes inscritos em todo o Brasil.
Além disso, também será exibido em
outros sete festivais, dentre eles, o da Mostra de Cinema de Ouro Preto,
Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo, Festival de Cinema de
Pirinópolis, entre outros. O cineasta também lançou na última semana o
filme/show Phill Veras, gravado no
Teatro Artur Azevedo e dirigido por ele, bem como participou do Seminário sobre
Elaboração de Projetos Cinematográficos promovido pela Agência Nacional de
Cinema (Ancine) e Governo do Estado; e ainda da 1ª Mostra Novo Cinema
Maranhense ao lado de produções de Lucas Sá, Daniel Drummond, Edemar Miqueta,
Tairo Lisboa, Arturo Saboia.
O cineasta começou a paixão pelo cinema
em casa. É filho de dois jornalistas. O pai, Marcos Nogueira, era cinéfilo e foi fundador do Cine Clube da
UNE (SP). “Eu tive essa formação cinematográfica dentro de casa. Não tive
formação acadêmica em Cinema. Cursei História, Filosofia, Comunicação e Direito
e não terminei nenhum (risos). Foi com influência dos meus pais, desde criança
assistindo aos clássicos que me foi despertado o interesse pelo cinema”, conta.
Marcos conversou conosco sobre suas
produções, o cinema no Maranhão e o fazer cinema: dificuldades, avanços e de
como o segmento tem a cena forte no Estado, só precisando para isso de um
empurrãozinho. “Nosso grande problema é falta de investimento na educação,
porque como nos não temos uma formação acadêmica e nem técnica na área do
audiovisual, a gente não consegue
desenvolver um núcleo criativo, um núcleo produto sólido na hora de gerir
grandes produtos audiovisuais”, comenta Marcos.
Entrevista Marcos Ponts
Que
cineastas influenciaram a sua formação?
Tem vários cineastas que mudaram a percepção
do fazer cinema. Um deles é o Pablo Stol, cineasta uruguaio, que é diretor do meu filme
favorito, Whisky,
e com quem tive a oportunidade de fazer um
curso em Belo Horizonte, de misancene, de duas semanas. A partir
daí criei um vínculo com ele e consegui colocá-lo na equipe do meu filme Guaraci.
Ele é assessor, consultor de roteiro e é
um filme que devo rodar esse semestre ainda, um longa metragem.
Foi muito bom e foi uma experiência
incrível. Fui pro Uruguai, passei duas semanas na casa dele trabalhando no
roteiro. Ele pra mim é dos grandes mestres, mas tem vários... como o Cacá
Diegues, Michael
Haneke. Gosto muito do cinema latino também. Acho que tem um vínculo
com o Brasil que ainda que deve ser descoberto, com certeza. Mas nós temos
muita semelhança, apesar da diferença da língua
com os outros países da América Latina,
eu vejo uma unidade no nosso cinema e acho que a gente pode se fortalecer
por aí.
Como
estão as suas produções?
Ano passado, em setembro, eu rodei o
longa de ficção independente e que ainda não tem título definido. E desse longa que eu rodei no ano passado é que se derivou
o curta metragem Macapá. E foi também
a época de gravação do filme/show do Phill Veras que foi lançado agora em julho
e teve uma repercussão muito legal no Cine Praia Grande.
Esse filme/show do Phill Veras foi gravado
no Teatro Artur Azevedo e ficou muito bonito. A gente teve um cuidado na
fotografia, na montagem, na finalização de cor muito minuciosa e as pessoas estão
gostando muito. Tivemos um público bom e em agosto deve começar a ser vendida a
cópia física e lançado alguns trechos na
internet. Já houve pedidos em Belo Horizonte, Recife para que o filme fosse
exibido em alguns cinemas de lá.
Sobre
o Macapá que foi selecionado para o Festival de Gramado. Do que trata o filme?
É um curta metragem em plano sequência
que mostra o processo de direção de um ator, que no caso é uma não-atriz, uma atriz
sem experiência. É basicamente um diálogo entrem mim e a atriz. E a gente vai
construindo a cena que ela precisava chorar. É bem interessante. Está sendo
aceito em grandes festivais. Há sempre uma discussão muito instigante após o
filme. Eu gosto bastante, estou bastante satisfeito com o resultado que até agora ele vem alcançando. Acho que ele
tem uma vida razoavelmente longa em festivais. Vai ser exibido em várias telas
por aí.
Dá
para adiantar detalhes sobre o longa?
O elenco do longa foi feito com boa
parte de atores maranhenses, mas que tem dois grandes atores experientes, de
fora, que são o Luciano Chirolli e a Gilda Nomacce.
É uma forma muito interessante de se trabalhar, a meu ver, que é com
atores experientes e não atores. Eu gosto muito de misturar porque acho que é
um processo enriquecedor. O ator experiente acaba emprestando e orientando o
ator que não tem experiência, e este
acaba influenciando o ator que tem uma bagagem maior a ser mais organizado, a ter uma naturalidade, a tirar os vícios que muitas vezes o teatro e
a tv proporcionam. Então é muito interessante trabalhar com essas duas situações.
Como
é ser cineasta no Maranhão?
É menos difícil do que parece porque a
gente tem várias linhas de financiamento no FSA (Fundo Setorial Audiovisual),
que é um programa da Ancine (Agência Nacional do Cinema), Brasil de todas as Telas. Tem várias linhas de financiamento, vários
meios pra financiar produções e o Nordeste tem uma cota mínima, mas nós aqui no
Maranhão nunca atingimos essa cota porque nunca produzimos projetos suficientes.
Por incrível que pareça, nosso problema não é falta de investimento na produção.
Tem muito dinheiro para produção e esse dinheiro volta porque a gente não tem
projeto suficiente para ocupar esse espaço. Nosso grande problema é a falta de
investimento na educação, porque como não temos uma formação acadêmica e nem técnica
na área do audiovisual, a gente não consegue desenvolver um núcleo criativo, um
núcleo produto sólido na hora de gerir grandes produtos audiovisuais.
Qual
seria a saída então?
Acredito que só a partir do momento que
tivermos algum meio de nos profissionalizarmos
iremos conseguir despertar ainda
mais esse germe do cinema que tem na cidade, no nosso estado. Porque apesar de
o Maranhão ser muito carente no acesso a investimentos, tanto na produção como na educação, apesar de tudo isso, nossa
filmografia é exitosa. Temos vários curtas que foram premiados em grandes festivais,
filmes de Arturo Saboia, Lucas Sá, Murilo Santos...
Qual
a sua análise sobre o fazer cinema no Maranhão?
Apesar das dificuldades, da falta de
incentivos oficiais, a cena é muito boa, porque o nosso substrato cultural é
muito rico, então podemos passar por várias questões sócio politicas, até folclórica
mesmo, e conseguir daí tirar boas histórias ou as imagens e fazer grandes
filmes. Então a gente tem um prato cheio.
Tem muitos motivos para fazer grandes filmes, apesar de, volto a dizer, da falta de incentivo oficiais
que até 2014 nós não tínhamos. Agora estamos ansiosos para saber qual será o
resultado desse edital - que com certeza
será bom -, mas estamos ansiosos para assistir aos filmes, para saber como vai ser
a continuidade dessa política pública para o audiovisual, se vai vir ou não uma
escola, enfim, queremos saber qual o
próximo passo do governo em respeito ao
cinema e acho que eles tem um bom projeto para a gente. Vamos aguardar o que que vem
por aí.
Como
nossos filmes são vistos lá fora?
São muito bem aceitos e o cinema maranhense
já tem uma cara. É visto como um movimento fora do Maranhão. Os festivais já
olham o cinema maranhense como um movimento. Eles assistem a um filme e
conseguem enxergar os vínculos entre eles. Os nossos filmes se comunicam de certa
forma, apesar de serem completamente diferentes uns dos outros. Então se sem
esse incentivo maciço para o nosso cinema a gente já conseguiu chegar a esse
patamar, agora com esse investimento do governo desenvolvendo uma política de
fato para o setor audiovisual, eu tenho certeza que o cinema vai avançar e
muito. E em muito pouco tempo. Porque o edital para o audiovisual, em parceria
do governo estadual com o federal é de R$3 milhões: R$1 milhão do governo do estado e R$2 milhões
da Ancine. Isso deve contemplar uns 20 projetos e vai alavancar, vai dar uma força para o nosso cinema. E tenho
certeza que bons filmes vão ser produzidos, ganharemos mais prêmios e teremos sucesso,
de critica, de público, e de comercial também.
E
você está trabalhando em outros projetos?
Tenho vários, como a produção do Festival de Cinema Internacional de Alcântara,
a ser realizado no final do ano. Acabei de rodar o Projeto Cinerama que são dez
episódios. Dirigi um e fotografei seis. Roteirizei todos com uma equipe de roteiristas
incríveis que são o Arturo Saboia e os escritores Celso Borges e Bruno Azevedo.
Nós quatro juntos e mais a Mavi Simão (produtora) escrevemos todos os roteiros
em cima de argumentos que foram selecionados via concurso interno. A série inteira
se passa dentro de um ônibus em movimento, um ônibus comum. Essa série deve ser
lançada no final do ano.
No final de 2015 devo rodar o segundo longa,
Guaraci que estou trabalhando há pelo
menos quatro anos, e vai ser um parto
doloroso, pois deve demorar mais um ano pra que seja lançado. Tenho que lançar também
o longa que rodei, que deu origem a Macapá,
ainda sem nome. Devo finalizar e lançar em 2016. Então é isso. Vários projetos em curso: dois longas,
uma série e um Festival de Cinema.
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