sábado, 8 de agosto de 2015

Na trilha do Festival de Gramado


O cineasta maranhense Marcos Ponts teve recentemente seu filme, o curta-metragem Macapá, indicado a vários festivais de cinema, dentre eles, o cobiçado Festival de Cinema de Gramado (RS) que está na 43ª edição e acontece entre os dias 7 e 15 de agosto. Macapá figura entre os 15 selecionados para a mostra competitiva de curtas-metragens brasileiros dentre produções de outros seis estados brasileiros (São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso,  Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte), de um total de 567 filmes inscritos em todo o Brasil.
Além disso, também será exibido em outros sete festivais, dentre eles, o da Mostra de Cinema de Ouro Preto, Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo, Festival de Cinema de Pirinópolis, entre outros. O cineasta também lançou na última semana o filme/show Phill Veras, gravado no Teatro Artur Azevedo e dirigido por ele, bem como participou do Seminário sobre Elaboração de Projetos Cinematográficos promovido pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) e Governo do Estado; e ainda da 1ª Mostra Novo Cinema Maranhense ao lado de produções de Lucas Sá, Daniel Drummond, Edemar Miqueta, Tairo Lisboa, Arturo Saboia.
O cineasta começou a paixão pelo cinema em casa. É filho de dois jornalistas. O pai, Marcos Nogueira,  era cinéfilo e foi fundador do Cine Clube da UNE (SP). “Eu tive essa formação cinematográfica dentro de casa. Não tive formação acadêmica em Cinema. Cursei História, Filosofia, Comunicação e Direito e não terminei nenhum (risos). Foi com influência dos meus pais, desde criança assistindo aos clássicos que me foi despertado o interesse pelo cinema”, conta.
Marcos conversou conosco sobre suas produções, o cinema no Maranhão e o fazer cinema: dificuldades, avanços e de como o segmento tem a cena forte no Estado, só precisando para isso de um empurrãozinho. “Nosso grande problema é falta de investimento na educação, porque como nos não temos uma formação acadêmica e nem técnica na área do audiovisual,  a gente não consegue desenvolver um núcleo criativo, um núcleo produto sólido na hora de gerir grandes produtos audiovisuais”, comenta Marcos.

Entrevista  Marcos Ponts

Que cineastas influenciaram a sua formação?
Tem vários cineastas que mudaram a percepção do fazer cinema. Um deles é o Pablo Stol, cineasta uruguaio, que é diretor do meu filme favorito, Whisky, e com quem tive a oportunidade de fazer um  curso em Belo Horizonte, de misancene, de duas semanas. A partir daí criei um vínculo com ele e consegui colocá-lo na  equipe do meu  filme Guaraci. Ele é assessor,  consultor de roteiro e é um filme que devo rodar esse semestre ainda, um longa metragem.
Foi muito bom e foi uma experiência incrível. Fui pro Uruguai, passei duas semanas na casa dele trabalhando no roteiro. Ele pra mim é dos grandes mestres, mas tem vários... como o Cacá Diegues, Michael Haneke. Gosto muito do cinema latino também. Acho que tem um vínculo com o Brasil que ainda que deve ser descoberto, com certeza. Mas nós temos muita semelhança, apesar da diferença da língua  com os outros países da América Latina,  eu vejo uma unidade no nosso cinema e acho que a gente pode se fortalecer por aí.
Como estão as suas produções?
Ano passado, em setembro, eu rodei o longa de ficção independente e que ainda não tem título definido. E desse  longa que eu rodei no ano passado é que se derivou o curta metragem Macapá. E foi também a época de gravação do filme/show do Phill Veras que foi lançado agora em julho e teve uma repercussão muito legal no Cine Praia Grande.
Esse filme/show do Phill Veras foi gravado no Teatro Artur Azevedo e ficou muito bonito. A gente teve um cuidado na fotografia, na montagem, na finalização de cor muito minuciosa e as pessoas estão gostando muito. Tivemos um público bom e em agosto deve começar a ser vendida a cópia  física e lançado alguns trechos na internet. Já houve pedidos em Belo Horizonte, Recife para que o filme fosse exibido em alguns cinemas de lá.


Sobre o Macapá que foi selecionado para o Festival de Gramado. Do que trata o filme?
É um curta metragem em plano sequência que mostra o processo de direção de um ator, que no caso é uma não-atriz, uma atriz sem experiência. É basicamente um diálogo entrem mim e a atriz. E a gente vai construindo a cena que ela precisava chorar. É bem interessante. Está sendo aceito em grandes festivais. Há sempre uma discussão muito instigante após o filme. Eu gosto bastante, estou bastante satisfeito com o resultado  que até agora ele vem alcançando. Acho que ele tem uma vida razoavelmente longa em festivais. Vai ser exibido em várias telas por aí.

Dá para adiantar detalhes sobre o longa?
O elenco do longa foi feito com boa parte de atores maranhenses, mas que tem dois grandes atores experientes, de fora, que são o  Luciano Chirolli e a Gilda Nomacce. É uma forma muito interessante de se trabalhar, a meu ver, que é com atores experientes e não atores. Eu gosto muito de misturar porque acho que é um processo enriquecedor. O ator experiente acaba emprestando e orientando o ator que não tem experiência,  e este acaba influenciando o ator que tem uma bagagem maior a  ser mais organizado, a ter uma naturalidade,  a tirar os vícios que muitas vezes o teatro e a tv proporcionam. Então é muito interessante trabalhar com essas duas situações.

Como é ser cineasta no Maranhão?
É menos difícil do que parece porque a gente tem várias linhas de financiamento no FSA (Fundo Setorial Audiovisual), que é um programa da Ancine (Agência Nacional do Cinema), Brasil de todas as Telas. Tem várias linhas de financiamento, vários meios pra financiar produções e o Nordeste tem uma cota mínima, mas nós aqui no Maranhão nunca atingimos essa cota porque nunca produzimos projetos suficientes. Por incrível que pareça, nosso problema não é falta de investimento na produção. Tem muito dinheiro para produção e esse dinheiro volta porque a gente não tem projeto suficiente para ocupar esse espaço. Nosso grande problema é a falta de investimento na educação, porque como não temos uma formação acadêmica e nem técnica na área do audiovisual, a gente não consegue desenvolver um núcleo criativo, um núcleo produto sólido na hora de gerir grandes produtos audiovisuais.

Qual seria a saída então?
Acredito que só a partir do momento que tivermos algum meio de nos profissionalizarmos  iremos conseguir  despertar ainda mais esse germe do cinema que tem na cidade, no nosso estado. Porque apesar de o Maranhão ser muito carente no acesso a investimentos,  tanto na produção  como na educação, apesar de tudo isso, nossa filmografia é exitosa. Temos vários curtas que foram premiados em grandes festivais, filmes de Arturo Saboia, Lucas Sá, Murilo Santos...

Qual a sua análise sobre o fazer cinema no Maranhão?
Apesar das dificuldades, da falta de incentivos oficiais, a cena é muito boa, porque o nosso substrato cultural é muito rico, então podemos passar por várias questões sócio politicas, até folclórica mesmo, e conseguir daí tirar boas histórias ou as imagens e fazer grandes filmes. Então  a gente tem um prato cheio. Tem muitos motivos para fazer grandes filmes, apesar de,  volto a dizer, da falta de incentivo oficiais que até 2014 nós não tínhamos. Agora estamos ansiosos para saber qual será o resultado desse edital -  que com certeza será bom -, mas estamos ansiosos para assistir aos filmes, para saber como vai ser a continuidade dessa política pública para o audiovisual, se vai vir ou não uma escola, enfim, queremos saber qual  o próximo passo do governo em respeito ao  cinema e acho que eles tem um bom projeto  para a gente. Vamos aguardar o que que vem por aí.

Como nossos filmes são vistos lá fora?
São muito bem aceitos e o cinema maranhense já tem uma cara. É visto como um movimento fora do Maranhão. Os festivais já olham o cinema maranhense como um movimento. Eles assistem a um filme e conseguem enxergar os vínculos entre eles. Os nossos filmes se comunicam de certa forma, apesar de serem completamente diferentes uns dos outros. Então se sem esse incentivo maciço para o nosso cinema a gente já conseguiu chegar a esse patamar, agora com esse investimento do governo desenvolvendo uma política de fato para o setor audiovisual, eu tenho certeza que o cinema vai avançar e muito. E em muito pouco tempo. Porque o edital para o audiovisual, em parceria do governo estadual com o federal é de R$3 milhões:  R$1 milhão do governo do estado e R$2 milhões da Ancine. Isso deve contemplar uns 20 projetos e  vai alavancar,  vai dar uma força para o nosso cinema. E tenho certeza que bons filmes vão ser produzidos, ganharemos mais prêmios e teremos sucesso, de critica, de público, e de comercial também.

E você está trabalhando em outros projetos?
Tenho vários, como a produção do Festival de Cinema Internacional de Alcântara, a ser realizado no final do ano. Acabei de rodar o Projeto Cinerama que são dez episódios. Dirigi um e fotografei seis. Roteirizei todos com uma equipe de roteiristas incríveis que são o Arturo Saboia e os escritores Celso Borges e Bruno Azevedo. Nós quatro juntos e mais a Mavi Simão (produtora) escrevemos todos os roteiros em cima de argumentos que foram selecionados via concurso interno. A série inteira se passa dentro de um ônibus em movimento, um ônibus comum. Essa série deve ser lançada no final do ano.  
No final de 2015 devo rodar o segundo longa, Guaraci que estou trabalhando há pelo menos quatro anos,  e vai ser um parto doloroso, pois deve demorar mais um ano pra que seja lançado. Tenho que lançar também o longa que rodei, que deu origem a Macapá, ainda sem nome. Devo finalizar e lançar em 2016.  Então é isso. Vários projetos em curso: dois longas, uma série e um Festival de Cinema.


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