quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

CARNAVAL DA REGIÃO MEIO-NORTE: até 2012 São Luís fazia a melhor festa

Prof. Dr. Eugenio Araújo/UFMA


Desde 2006 tenho estendido meu trabalho de pesquisa sobre a festa carnavalesca às capitais vizinhas. Nos últimos anos, quando não trabalho como carnavalesco em São Luís, vou observar as festas de Belém, Teresina e Fortaleza, buscando pontos de aproximações e contrastes. Há muito que aprender quando se olha para os lados. São Luís precisa romper o isolamento e passar a se ver como integrante da realidade sócio-cultural da região meio-norte, formada pelos estados do Ceará, Piauí e Pará, além do Maranhão.

Pois bem, numa perspectiva comparativa, em relação aos últimos 6 anos, a cidade de São Luís promoveu as maiores e melhores festas carnavalescas da região. Neste sentido, a eterna briga política entre prefeitura e governo estadual, em vez de atrapalhar, contribuiu para o engrandecimento da festa. Como são grupos políticos concorrentes, cada um responsabilizava-se por um aspecto e também por um espaço físico do carnaval: a prefeitura com a passarela e a organização dos desfiles no Anel Viário, o governo estadual com a decoração e o carnaval de rua no centro histórico. Tudo isso junto, elevou o carnaval de São Luís a um patamar de logística e animação superior ao das capitais vizinhas. Vejamos por que.

O que há de semelhante entre as 4 capitais que estou pesquisando é que em todas elas, em algum momento nos últimos 20 anos, ressoou o mesmo coro dos detratores dos desfiles oficiais, sobretudo das escolas de samba. As estratégias para isso são sempre as mesmas: retirada da subvenção oficial e ausência da infraestrutura para o desfile, o que resulta no desmantelamento progressivo de grande parte das agremiações. O resultado desse processo também é parecido: muitas escolas desaparecem, mas existem aquelas que mesmo sem qualquer apoio, não deixam de desfilar, apresentando um espetáculo decadente, mas ainda assim, se fazendo presente nas festas carnavalescas. Em todas estas cidades o resultado mais patente foi o esvaziamento da festa, com o afastamento das classes médias do centro urbano.

 Em Belém, Teresina e Fortaleza os remediados viajam para cidades do interior e do litoral, deixando as cidades quase vazias. Só os populares ficam para a festa. Em São Luís também observa-se tal movimento, sem a mesma gravidade: a cidade não fica deserta e ainda consegue atrair algum turismo. É preciso alertar as autoridades que cria-se um problema econômico quando aqueles que tem mais dinheiro, viajam para gastá-lo em outro lugar, deixando a cidade natal desfalcada.

Também observamos que depois desse processo de “forçar o desaparecimento das escolas”, sem o resultado esperado, algumas prefeituras voltaram a investir no evento, recuperando a organização e fazendo subir a participação popular e o nível de qualidade dos desfiles – este é o caso de Belém e Fortaleza.

Belém é a cidade que tem mais e maiores agremiações, e ainda consegue realizar desfiles de blocos e escolas de samba, divididos em 3 grupos, só que em um local inadequado. Lá um sambódromo de concreto foi construído no subúrbio, afastando o desfile e o público do centro da cidade. O evento ficou esvaziado, só quem vai olhar é o pessoal do bairro e as autoridades não conseguiram organizá-lo de forma eficiente, os atrasos são freqüentes. A classe média já não participa do evento.

Em Teresina, as escolas atravessam uma crise que se alonga desde meados dos anos 1990, desfilam ano sim, dois não, e a maioria já concorda que o certo é “acabar com elas”. Mas as agremiações mais antigas não parecem “querer morrer”; embora não desfilem, elas não desaparecerem. Nos últimos anos a tradição do “corso” foi recuperada, se transformando na maior atração do carnaval da cidade, mas que acontece no sábado magro, antes da classe média migrar para as cidades praieiras.

Outro ponto em comum é o questionamento sobre a validade do investimento de recursos públicos nos desfiles das agremiações locais. Questiona-se a honestidade na manipulação das verbas e o resultado estético, considerado fraco. Mas em todas estas cidades, quando a verba não é aplicada nos desfiles, é aplicada em outras manifestações, sobretudo em shows de bandas e trios elétricos, dada a influência do carnaval baiano e o crescimento da festa de rua. Ou seja, não há economia de recursos, o dinheiro continua sendo gasto, apenas favorecendo outros grupos.

Neste cenário, por tudo isso e apesar disso, o carnaval de São Luís destacou-se nos últimos anos. Nós temos um carnaval de rua vibrante, temos um desfile de blocos e escolas com organização e qualidade regular, que nos diferencia das demais cidades, congrega a população, movimenta a economia e atrai turismo. Em 2012 fui passar o carnaval em Teresina e chegando lá, liguei para alguns sambistas que já conheço. Fiquei surpreso ao saber que muitos estavam aqui em São Luís. Como não houve desfiles de escolas, muitos teresinenses migraram para cá e ficaram impressionados com nossa infraestrutura, lamentando que lá eles já não contassem com isso. Quem diria, este ano estamos na mesma situação.

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