sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O Torcedor, de Dyl Pires


Foi uma noite de poesia, música, encontro de poetas, escritores, músicos. Hoje o ator e poeta Dyl Pires, que atualmente mora em São Paulo, lançou o livro O Torcedor, no Chico Discos. A noite também teve o escritor Samarone Marinho lançando dois livros: Manoel ama lembrar e Cão infância,  Eduardo Júlio, jornalista e escritor na programa musical.


Coloque uma flor
No seu silêncio
Pisque no escuro
O olho depositado no tempo
Tem a fragilidade de um botão de camisa
Prestes a cair 


Dyl Pires reside há 6 anos em São Paulo. Os três primeiros anos de vivência na maior cidade do país foram de tentar se integrar à grande metrópole. Dyl não se sentia parte da cena. E foi no trajeto entre a Universidade de São Paulo (onde morava inicialmente) e a sede da companhia Teatro Os Satyros – Avenidas Rebouças e Consolação-, que surgiram as primeiras ideias para o livro.

Na Rebouças Dyl diz que vários moradores em situação de rua e dois deles chamaram a atenção para a criação dos dois primeiros poemas para o livro. “Fazendo esse trajeto de carro ou de ônibus a gente não vê esses moradores. Quando eu vi um homem negro, forte, empurrando um carrinho de supermercado vazio, e em seguida uma mlher lendo revista Isto É, percebi ali os meus dois primeiros poemas”, conta o poeta.

Mostrar a relação dele com a cidade, a fragilidade das relações humanas dentro de uma cidade tão grande e ao mesmo tempo tão carente de afeto, foi o que suscitou, entre 2009 e 2012, o nascimento de Os Torcedores. “Eu não me sentia parte da paisagem e numa dessas caminhadas pelas ruas de São Paulo eu percebi que poderia fazer algo sobre a minha estada lá, sobre a questão da fragilidade e com o que existe de delicadeza e invisibilidade ao mesmo tempo. Uma cidade que tem serviço pra tudo, mas que é frágil”, diz ele referindo-se nesse último aspecto aos moradores em situação de rua.

O poeta lembra e refuta uma frase do artista Criolo. “Ele diz que não existe amor em SP. Não é que não exista amor, é que ele não é a tônica das relações, assim como o afeto, a ternura, a delicadeza. Esses sentimentos não são o que fazem com que a cidade se mova”, atesta Dyl Pires.

As caminhadas continuaram e renderam 34 poemas. No prefácio do livro o sociólogo Matheus Gato de Jesus, diz que “O Torcedor revela um andarilho que caminha sobre a utopia cotidianamente derrotada da conjunção entre progresso técnico, racionalidade e felicidade geral (...). O Torcedor não pretende a fusão entre o instantâneo e o eterno com que Baudelaire nos revelou o poder estético da grande cidade, mas entre o espaço e a memória.”

Essas inspirações duraram até 2013, quando Dyl, já ambientado na cidade, já não se surpreendia tanto. O livro, portanto, já estava pronto na sua visão. Dyl, assim como Matheus Gato bem definiu, se considera um andarilho, alguém que circula pela cidade e se depara com a realidade fazendo uma fusão entre espaço e memória.

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