Rita Benneditto está de férias em São Luís. A cantora veio rever
familiares, amigos, se reabastecer de afeto, cultura e da culinária
maranhense, mas também veio articular o lançamento na cidade, do seu
mais recente disco, Encanto (distribuído pela gravadora Biscoito Fino).
O lançamento oficial será em março no Rio de Janeiro.
Encanto é o
primeiro após 8 anos do lançamento de Tecnomacumba (2006) e marca os 25
anos de carreira dela, com inéditas e releituras. Todo o disco remete à
cultura maranhense, seja em arranjos ou outros elementos. Um disco que
ficou como ela queria e que traz três músicas em parceria e releituras
de Gilberto Gil (Extra), Roberto Carlos (Fé), Djavan (Água), Jorge
Benjor (Santa Clara Clareou) e Villa-Lobos (Estrela é lua nova), com
participações de Frejat, Arlindo Cruz e Reggae B e produção de Felipe
Pinaud.
Está previsto também para este início de janeiro o
lançamento de Som e fúria, disco que gravou com a cantora Jussara
Silveira, em uma produção de Alê Siqueira e direção artística de José
Miguel Wisnik e que traz como principal elemento a voz. A obra foi toda
gravada em uma caverna na Chapada Diamantina.
Rita fica encantada
ao falar do novo disco. E para defini-lo ela recorre a elementos e
situações do local em que gravou Lençóis, e da cidade de sua inspiração,
São Luís. Entre metáforas e num linguajar que esbanja lirismo, Rita
diz que o CD é a marca de um renascimento, de um rebatismo e de fé, em
todos sentidos. Tanto no sentido de esperança, quanto de mudar para
melhor. Fé, não por acaso, é a faixa título do disco.
O disco,
porém, ela trata de dizer, não é religioso, mas a música é a sua
religião. Encanto é o sexto álbum solo e expõe a devoção de Rita à deusa
música, pondo fé num som afro-brasileiro de alcance universal. “O CD tá
bem diversificado com tecno, macumba, dance, reggae, pop, samba, rock. E
é permeado pela seta que aponta e no meio da história se espalha para
todos os lugares. É a caboca Jurema com força total”, diz ela
referindo-se a duas vinhetas que tem no CD.
“Uma das vantagens
ao longo da carreira é que sempre realizei projetos do jeito que
imaginei. Eu vejo o disco como um grande quadro por conta das nuances,
dos traços, do caminho que foi traçado até chegar ao resultado final.
Uma dessas imagens são as raízes de mangue são bem estruturadas embora
estejam em solo de maré, e essa estrutura se espalha. Assim é o meu
trabalho musical. Faço música para ela se espalhar pelo mundo. Músicas
que chegam a qualquer lugar. Esse trabalho tem muita verdade e está
recheado de referências maranhenses”, compara Rita.
Outra
comparação feita por ela é quanto aos movimentos das areias observadas
nos Lençóis Maranhenses, local onde foram feitas as fotos para o CD.
“Observar esse movimento foi uma das viagens que fiz e eu quis ir para
um lugar encantado que tenha movimento, mudança, como o que aconteceu
comigo a começar pelo meu nome”, reforça.
Faixa a faixa por Rita Ribeiro
1.
Centro da Mata - É um tema de domínio público adaptado por Rita com
Felipe Pinaud. É uma vinheta que fala da caboca Jurema, que a acompanha
desde o primeiro disco. “Achei importante abrir o disco com uma vinheta.
É uma caboca do mundo que transcende o espaço. É como se ela se
preparasse para atirar a seta para todos os lugares, e tempos e
conexões, com uma levada sutil do Boi de Pindaré.
2.Guerreiro do
Mar – Música de meus parceiros e que representa o encontro entre
energias masculina e feminina. Energia de ogum com Iemanjá. Essa música
tem uma pegada rock com arranjos do rock progressivo, meio Pink Flouyd,
uma levada de reggae. Quis trazer esse ponto. Foram viagens musicais
sonoras.
3. Santa Clara Clareou – Faço uma referência ao
Tecnomacumba. É quase uma oração, com arranjos baseado no ritmo do
tambor de mina, homenageando essa manifestação, tão importante para a
minha formação artística.
4.Pedra do Tempo – Falo da figura de
Xangô, de toda a simbologia dele. Te, uma vinheta de Villa Lobos. Como
eu já cantei essa música em corais, eu quis trazer essa memória afetiva.
5.Água – Queria muito fazer uma música que retratasse o
elemento água pela importância que ela tem para a humanidade e para
chamar a atenção sobre ela. É uma música de Djavan. Fiz também um
arranjo trazendo a cultura maranhense no toque das caixeiras do Divino.
6.Banho de Manjericão – Inspirada no ritmo do terecô maranhense.
Convidei o babalorixá Oboromin T’ogunjá, que incorporou o Pai Benedito
das Almas de Angola e deixou uma mensagem de amor e de fé. Da fé que
está dentro da gente. Um convite à transformação, à mudança... e eu faço
isso nos meus trabalhos, que é ter uma visão mais ampla, mais
transcendental.
7. Babalu - É um clássico da música. Quis
trazer essa música mais anos 70 e é a primeira vez que canto uma música
em espanhol, mas acho que está muito honesto. Babalu é um dos nomes do
orixá Obaluaê.
8.Estrela é Lua Nova – É a mais antiga do disco.
De Villa-Lobos em que ele . expõe a sua erudição. Ele brinca com a
palavra macumba.
9.Fé – Sintetiza o Encanto. Sou cantora de
fé, mas não de dogmas. Não sou presa a nenhuma religião. Estou ligada na
música como religião, como elemento transformador. E essa música tem
uma força, por ser de Robert Carlos e por termos feito um arranjo
rock’n’roll, que é atemporal e todo mundo curte.
10.Extra – Tem a
participação da banda Reggae B, (integrantes do Paralamas do Sucesso),
comandada pelo Bi Ribeiro e aí eu quis resgatar para fazer a base da
música. É um reggae bem 4x4, mais roots, quis fazer essa ligação com o
reggae do Maranhão. A música fala também de transcendência, de Deus.
Convidei o padre jamaicano rastafári Priest Tiger, que encarna o
mensageiro da fé e quando traduzimos a mensagem dele vimos que se
tratava do Salmo 24 (oração do Evangelho). Tudo a ver com a música, que
fala do Deus que está dentro de nós.
11.Filha de Tupinambá –
Outra vinheta de Jurema, porque como eu te falei, a seta está lá no
início e prepara o CD. Toca nova vinheta, reafirma a origem de Jurema.
12.De
Mina – É uma composição de Josias que eu adoro e que fala do tambor de
mina, que me recoloca na minha aldeia. Fui gravar a voz no estúdio do
Frejat e pensei que podíamos convidá-lo. O Frejat toca guitarra tem a
pegada rock, que é a característica dele e ele topou e adorou
participar, pirou nos arranjos. (N.R: essa música também tem a seta de
Jurema chegando a seu destino final).
13. O que é dela é meu – É
um samba do maravilhoso Arlindo Cruz em que a gente celebra a vida. A
gente se encontrou em um trabalho e ele me disse que tinha uma música
pra mim. Pedi pra ele mostrar e adorei. Disse que queria gravar no meu
disco, daí convidei ele pra gravar e ele adorou. Não só cantou, como
tocou banjo, bateu palma. Ele gosta muito do Tecnomacumba e fez essa
brincadeira evidenciando a cultura africana.
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