terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Produtora cultural denuncia racismo


Era apenas um bate papo, mas terminou em um boletim de ocorrência registrado no Plantão Central da Cajazeiras. A coreira e produtora cultural Carla Belfort, conhecida no meio cultural como Carla Coreira, estava conversando com uns amigos na calçada em frente a um restaurante quando foram abordados por um garçom que perguntou aos amigos dela, se estavam sendo incomodados. Quem conta melhor essa história que aconteceu na última sexta-feira, 14, é a própria Carla.
“Eu fui convidada por uma amiga para fazer caminhada, depois estava tendo uma programação na Praça Nauro Machado e nós ficamos lá um pouco. Essa minha amiga branca queria ir ao banheiro e entrou no Flor de Vinagreira (restaurante que fica no Centro Histórico também) normalmente. Eu fiquei esperando na calçada, quando vi uns amigos que estavam em uma mesa. A gente começou a conversar sobre as oficinas de tambor de crioula que eu dou, quando chega um garçom e pergunta a eles, que eram brancos, se eu estava incomodando”, contou.
Na hora, ela disse que ficou tão constrangida que não esboçou reação. Apenas virou as costas e foi embora. “Eu estava ali, e passando aquela vergonha apenas por ser negra. Todos me olhando, me constrangendo. Fui embora, me perguntando o porquê. Depois caiu a ficha e eu resolvi que ia denunciar, não ia e nem vou me calar”, disse.
No dia seguinte (15) ela registrou um boletim de ocorrência no Plantão Central da Cazeiras, segundo consta no documento a denúncia foi enquadrada no artigo 140, parágrafo 3º do CPB: “injúria com conotação racista, cor, etnia, religião, origem, idoso ou portador de deficiência”.
“Vou atrás dos meus direitos. A gente não pode se calar. Não é a primeira vez que isso acontece lá naquele restaurante. Botei a boca no trombone, nas publicações nas redes sociais tem vários comentários de pessoas apoiando ou dizendo que passaram pela mesma situação”, lamentou Carla Belfort.   
Entramos em contato com o restaurante citado, pelos telefones que constam em seus perfis nas redes sociais, mas o telefone não foi atendido.
Em uma publicação no canal de vídeos YouTube, o proprietário e administrador do restaurante. Francisco Neto, diz que: “nosso restaurante não pratica racismo, nem injúria racial, e que suas atividades são baseadas em padrões morais e éticos cada vez mais elevados, respeitando a todos e todas. Em nossa empresa possuímos profissionais capacitados, gerentes e maitres, e em nenhum momento recebemos qualquer reclamação dessa natureza”.  O empresário diz ainda que acionou os seus advogados que analisarão a forma de defender a empresa.
Na postagem que Carla Coreira publicou nas redes sociais, ela se refere a uma estátua de uma negra que fica na frente do restaurante. “Usa imagem de mulher negra para decorar o local e pratica racismo. E mais, usam o espaço público, que é uma calçada, como espaço privado”. Sobre a imagem, Francisco Neto falou que “a obra de arte é mais uma das muitas que compõe o acervo do restaurante”.

Repercussão
A postagem e a denúncia de Carla Coreira alcançou uma grande repercussão nas redes sociais. A jornalista Lissandra Leite comentou na postagem: “Em dezembro, uma amiga estava neste restaurante com o companheiro e a irmã, aguardando um amigo chegar. Os três, brancos. O amigo aguardado, negro. Quando o amigo negro chegou e foi até a mesa, um funcionário da casa agiu exatamente da mesma forma: foi até a mesa e perguntou aos três: ‘Ele está com vocês? ’. O funcionário virou o rosto para ele, o ignorou e fez a pergunta ‘pros’ três brancos da mesa! Ele já estava sentado, conversando. Um desrespeito sem tamanho, assim como fizeram com a Carla”, diz um trecho da postagem.
Outros comentários relembraram o episódio. “Não é a primeira vez. Até quando tratar com racismo”, dizia um.
Na época, em dezembro do ano passado, repercutiu muito nas redes sociais a acusação do jovem identificado como Guilherme de que teria sofrido racismo por parte de um segurança do restaurante Flor de Vinagreira, quando o rapaz ia adentrar o estabelecimento. O jovem atribuiu o caso por causa da cor de sua pele e por estar de chinelo e moletom enquanto outros clientes brancos também “desarrumados” não haviam sido barrados.
Na época o restaurante publicou uma nota que dizia, entre outras palavras que não discrimina “com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos”.







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