quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

As Brasileirinhas na Passarela do Samba



Vamos sacolejar/É o samba, o pagode, maranhense, nordestino, Brasileirinhas/Dessa terra mãe gentil, primeiro grupo feminino do Brasil/ Vamos sacolejar

É assim, com esse trecho do samba enredo, Eu sou pagodeira brucutu bato o tambor, sou partideira, sou da Ilha do Amor, que a Mocidade Independente Turma do Saco, do bairro Codozinho, vai adentrar a Passarela do Samba para homenagear o grupo As Brasileirinhas, primeiro grupo de samba feminino do Brasil.
Com tema de Júnior Barreto, enredo de Helô Santana, música de Chris Santana, e letra de Chris Santana, Helô Santana e Emerson Araújo, o grupo se sente reverenciado, por, ao longo de quase três décadas se manter com o mesmo amor e talento ao samba.
“Nossa história está no samba enredo. Fomos batizadas por Leci Brandão no palco do Clube Jaguarema, em seguida fomos para o Rio de Janeiro em 1993, e aí Alcione nos lança no cenário brasileiro. Isso é mais uma referência que está contida nesse samba. A gente se sente muito feliz, porque manter uma formação de um grupo só de mulheres por tanto tempo é ultrapassar muitas barreiras, é resistir a mais de duas décadas de estrada na música. Nunca tinha acontecido isso de sermos homenageadas na passarela do samba. Nós fazemos parte do carnaval como intérpretes, como apoio de escola de samba, mas nunca tínhamos recebido um convite assim. Quem propôs esse enredo foi o Júnior Barreto, vice-presidente da Turma do Saco. Quando Leci Brandão recebeu essa notícia ficou muito feliz, tanto que há pouco tempo ela veio a São Luís só para nos dar a benção para esse carnaval de muito sucesso”, contou Helô Santana.
O grupo nasceu em 13 de fevereiro de 1992 no bairro da Cohab, em São Luís, idealizado por Rose Carrenho, uma sambista que já trazia na bagagem um histórico de roda de samba e bloco de carnaval. Rose encontrou a primeira e até hoje parceira do samba a cantora e também percussionista Helô Santana, e assim, com Chris Santana, Ana Colibri e Cristiane Viégas, começaram a escrever história no samba do Maranhão e do Brasil por serem pioneiras dentro do universo até então comandado apenas por homens.
 “Ser a pioneira não só no Maranhão, mas em todo o Brasil, tanto que quando Leci Brandão veio a São Luís naquele ano, que viu as Brasileirinhas no Jaguarema, ela imediatamente quis nos batizar, dar a sua força, a sua benção, e isso nos trouxe também uma responsabilidade, porque passamos a representar outras mulheres que com a vontade de formar roda de samba não tinham coragem. Então, a partir daí eu acho que outros grupos se formaram. E isso é gratificante, muito feliz para o nosso coração”, disse Rose Carrenho.
Ainda em 1992 o grupo conheceu Alcione, que quando soube que, a convite da então Escola Unidos da Ponte do Rio de Janeiro, As Brasileirinhas iriam fazer um show na quadra em Pavuna , imediatamente mandou o então amigo Chico Coimbra acompanhá-las ao Rio e assim incluiu as mesmas no seu show no Teatro Rival Cinelândia. O show fez tanto sucesso que o grupo ficou até o final da temporada.
“Além de Leci Brandão e Alcione, o enredo também fala de Rose Carrenho, de mim, Helô Santana, da Tia Paz, porque As Brasileirinhas começaram no quintal da Tia Paz, na Cohab, onde surgiu também o Pagrode, com Pepê Júnior”, disse Helô.
Sobre um grupo resistir por tanto tempo com o mesmo empenho de quando foi formado, Rose Carrenho disse que o amor é o que move tudo. “O amor que temos pela nossa arte, pelo samba, que escreveu a história de cada uma de nós em São Luís. Para mim e Helô, que estamos desde o começo no grupo, lado a lado, isso é muito importante. Então a gente tem esse amor pela carreira, que é tão grande que a gente não desiste. Como toda profissão tem seus altos e baixos, mas a gente tem uma coisa fantástica entre a gente que é o amor enorme pelo grupo, e isso nos faz resistir”, define. 

As Brasileirinhas no Carnaval
A apresentação da Turma do Saco homenageando As Brasileirinhas será na segunda-feira de carnaval, dia 24, às 19h30. Segundo Helô Santana, a comunidade do Codozinho está preparando essa homenagem de forma muito especial. “As Brasileirinhas estará com um figurino diferenciado. E todo o bloco estará fantasiado dentro do enredo. O samba está belíssimo, contando a nossa história e com a inovação de ser interpretado peal Cris Santana e por mim, Helô Santana, e ainda por Naldo e Emerson Araújo. O que tem de especial é essa avenida colorida de Brasileirinhas e dessa rosa tão especial com esse samba que está sendo muito elogiado”.
Antes do carnaval, porém o grupo faz uma série de apresentações pela cidade, também em comemoração ao aniversário de 28 anos com o tema “As Brasileirinhas no Carnaval”.
Já estão agendados no dia 13, dia do aniversário, show no Botequim da Música, no Recanto do Vinhais, onde o grupo fará o lançamento oficial do samba da Turma do Saco. Também no dia 23, domingo gordo, o grupo se apresenta no Espaço Fanfarra, no Turu, às 14h.
“Podemos dizer que com 28 anos de carreira e com um trabalho feito com amor e dedicação, somado ao nosso talento, vem junto um reconhecimento, tanto de produtores locais, quanto do poder público. Temos recebido convites para levar nosso trabalho para a população e isso é gratificante, mas é uma luta constante, diária, para manter a carreira das Brasileirinhas”, disse Rose Carrenho. 

A trajetória
Com cinco anos de grupo e após cantarem nós 50 anos de Marrom no teatro Arthur Azevedo, com a direção do diretor musical Jorge Cardoso, o grupo gravou seu único CD que além de músicas de compositores maranhenses como Quirino e Pepe Jr., também incluiu compositores de sucesso do Rio, como Marcelo Guimarães da Beija Flor, na música Quando amor acaba, que cantam com Alcione.
Mais uma vez no Rio de Janeiro, entraram novamente em temporada no Show "Valeu" de Alcione, no teatro João Caetano, e em São Paulo, no Palace. Com isso, fizeram parte da coletânea da gravadora Som Livre "Samba e Pagode" vol.8, com a música "Quando amor acaba”. O lançamento do CD em São Luís foi no Teatro Arthur Azevedo.
No ano passado, Dorina sambista do Rio de Janeiro, tomou conhecimento do grupo e entrou em contato com Rose Carrenho para a direção geral no Maranhão do Segundo Encontro de Mulheres do Samba Nacional.
Atualmente o grupo é formado por Helô Santana, Rose Carrenho, Noely Moura, Lia do Banjo e Mary Bass. E para coroar essa história, estão sendo homenageadas pelo Bloco Organizado Mocidade Independente da Turma do Saco com um samba que conta a trajetória dessas mulheres que não desistem, resistem e acreditam.

Publicada no jornal O Imparcial em 8 de fevereiro de 2020

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