quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Unesco reconhece Bumba meu boi do Maranhão como Patrimônio da Humanidade

Boi de Apolônio (baixada)


A  Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou o bumba-meu-boi do Maranhão como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, em reunião realizada na terça (10), em Bogotá (Colômbia).

O bumba-meu-boi é a manifestação cultural popular mais característica do estado e tem seu ciclo festivo dividido em quatro etapas:  ensaio, batismo,  apresentações ou brincadas, e  morte. É vivido  pelos brincantes, em sua maioria,  ao longo de todo o ano e  no Maranhão a manifestação está relacionada à devoção aos santos:  Santo Antônio São João, São Pedro e São Marçal, festejados de 1º a 30 de junho na capital, São Luís.

O estado do Maranhão é o único onde o bumba-meu-boi se apresenta em cinco sotaques diferentes, que são caracterizados pela marcação, ritmo, indumentárias, coreografias, instrumentos: Matraca, Orquestra, Baixada, Zabumba e Costa de Mão.


Cantadores do Boi de Maracanã (matraca)

Em nota, a Unesco destacou a riqueza presente na manifestação do bumba meu boi no Maranhão:

"A prática está fortemente carregada de simbolismo: ao reproduzir o ciclo de nascimento, vida e morte, oferece uma metáfora para a própria existência humana. Existem formas de expressão semelhantes em outros estados brasileiros, mas no Maranhão o Bumba-meu-boi se distingue pelos vários estilos e grupos que inclui, bem como pela relação intrínseca entre fé, festa e arte."

O Complexo Cultural do Bumba meu Boi é o sexto bem brasileiro a integrar a lista internacional. Passama a integrar a lista: A Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (2003); O Samba de Roda no Recôncavo Baiano (2005);  O Frevo: expressão artística do Carnaval de Recife (2012);
O Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2013); e A Roda de Capoeira (2014).

No Maranhão
Na pesquisa "Os Batalhões Pesados", feita pela escritora Abmalena Santos Sanches, mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e da Universidade Ceuma, desde a primeira metade do século XIX até a metade do século XX, os grupos de bumba meu boi não eram vistos com “bons olhos” pela elite de São Luís, por isso foram proibidos de entrar no centro da cidade, restringindo-se seus espaços aos bairros do João Paulo até o Areal (onde hoje é o bairro do Monte Castelo), Anil e zona rural da Ilha.
Boi de Nina Rodrigues (orquestra)

O preconceito, o desprezo e as proibições em relação às manifestações advindas dos setores mais pobres da sociedade maranhense se perpetuaram por vários anos. Até por volta dos anos de 1950, o bumba-boi era alvo de discriminação ativa.

Segundo a pesquisa, na década de 1930, mais precisamente no ano de 1939, um grupo de bumba-boi dançou pela primeira vez dentro da cidade e, em 1940, dançou no bairro do Areal (hoje Monte Castelo) e partir daí, nunca mais deixou de se apresentar. Em 1929, os grupos, ao se deslocarem para o João Paulo, foram se multiplicando, iniciando a tradição do encontro de São Marçal e, por conseguinte, da própria aceitação da brincadeira de bumba meu boi nos bairros urbanos.

No Brasil
Pesquisadores acreditam que o festejo teve origem no nordeste no século XVII, durante o Ciclo do Gado, quando o boi tinha grande importância simbólica e econômica. Na época, o animal era criado por colonizadores que faziam uso de mão de obra escrava. A lenda na qual se baseia o Bumba-meu-boi reflete bem essa organização social e econômica.

Ela conta a história de um casal de escravos, Pai Francisco e Mãe Catirina. Grávida, Catirina começa a ter desejos por língua de boi. Para atender suas vontades, seu marido tem de matar o boi mais bonito de seu senhor. Percebendo a morte do animal, o dono da fazenda convoca curandeiros e pajés para ressuscitá-lo. Quando o boi volta à vida, toda a comunidade celebra.


Texto da Unesco
"O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão é uma prática ritualística que envolve formas de expressão musical, coreográfica, performática e lúdica, nas quais a relação dos praticantes com o sagrado é mediada pela figura do boi. A prática apresenta certos elementos distintivos principais: o ciclo da vida; o universo místico-religioso; e o próprio boi. A prática está fortemente carregada de simbolismo: ao reproduzir o ciclo de nascimento, vida e morte, oferece uma metáfora para a própria existência humana. 

Existem formas de expressão semelhantes em outros estados brasileiros, mas no Maranhão o Bumba-meu-boi se distingue pelos vários estilos e grupos que inclui, bem como pela relação intrínseca entre fé, festa e arte. A cada ano, os grupos de Bumba do Maranhão reinventam essa celebração, criando músicas, comédias, os bordados no couro de boi e as roupas dos artistas. Divididos em cinco “sotaques” principais com características particulares, os grupos, embora diversos, compartilham um calendário anual de apresentações e festividades. O ciclo do festival - que atinge seu auge no final de junho - pode durar de quatro a oito meses, envolvendo as seguintes etapas: ensaios; a pré-temporada; batismos; apresentações públicas ou 'brincadas'; e rituais em torno da morte do boi. 

A prática é um período de renovação durante o qual as energias são revigoradas e é transmitida através de grupos de crianças, oficinas de dança e espontaneamente dentro do grupo". 

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