quarta-feira, 30 de março de 2022

O tom do (mau) humor

 

                                                                           Reprodução


*Patricia Cunha


A noite  de cerimônia de premiação do Oscar, a maior da indústria do cinema mundial foi marcada não só pelo seu brilhantismo, mas pelo protagonismo do ator Will Smith. Grande vencedor da noite da estatueta de melhor ator pelo filme “King Williams”, Will deu um tapa no rosto do também ator Chris Rock, após este fazer uma piada de mau gosto sobre a doença autoimune da atriz Jada Pinkett Smith, esposa de Will Smith.

Da plateia, Will chegou a esboçar um sorriso, mas não demorou muito para que ele subisse ao palco e soltasse a mão na cara do apresentador. Ao sentar, justificou seu alto proferindo frases como: “tira o nome da minha mulher da sua boca”. Sem graça, Chris Rock disse que não mais o faria.

O episódio foi um prato cheio para os internautas. “Bem feito”, “Merecido”, “Desnecessário”, “Perdeu a razão”, foram algumas das opiniões sobre o episódio que deixou a todos abismados, mas que gerou também vários memes.

Ao ser consagrado como Melhor Ator, Will se desculpou com a Academia e falou sobre uma conversa que teve com Denzel Washington nos comerciais: “Denzel me disse há alguns minutos: ‘Em seu momento de maior grandeza, tome cuidado. É nessa hora que o Diabo irá te procurar'”, referindo-se ao que aconteceu anteriomente. Ele pediu desculpas a todos e à Academia, reforçando que ele continuasse sendo convidado para outras festas.

Mas o que os atos de Will e Chris reverberam? Qual o tom do humor? Qual o limite entre o que é engraçado, sarcástico ou maldoso? A agressão que Chris levou foi maior do que a que Jada recebeu ao ser motivo de piada?  E o revide de Will foi correto?

Ao meu ver ambos erraram. Muito se tem falado sobre comediantes que utilizam de quaisquer artifícios para fazer piada. Jada tem alopecia. Chris sabia? Tanto faz? Ele não tinha outro gancho para fazer humor? Tinha que pegar uma característica de alguém da plateia? 

Rock disse que mal podia esperar por Jada em “Até o Limite da Honra 2”, em que a atriz principal do primeiro filme, estrelado por Demi Moore, tinha a cabeça raspada. Jada, apresentadora do “Red Table Talk” tomou a decisão de raspar o cabelo por ter uma doença autoimune, chamada alopecia, que faz com que a pessoa apresente um afinamento e queda de cabelo. É possível perceber, na hora da piada, que  Jada não gosta da comparação. E Will, bom ele resolveu ir “às vias de fato”, como se diz comumente.

Se ao invés de soltar a mão no ator, Will tivesse ido ao palco na hora de receber a sua estatueta e tivesse falado sobre a infeliz comparação ao invés de agredir Chris, teria saído bonito na “fita”? Com certeza. Mas o sangue quente falou mais alto. Agressão não foi e nem nunca será justificativa para nada. Brincar com coisa séria, fazer “bulling” em rede mundial, também não. Ambos erraram e que eles aprendam com seus erros.  Nós também.


*Jornalista, pós-graduada em Assessoria de Comunicação

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