Este ano o Festival de Bumba-meu boi de Zabumba vai abrir com duas
comédias sobre o universo simbólico do bumba-meu-boi. Esta é uma das
novidades para a vigésima edição do festival que se realizará neste
sábado, 12, a partir das 20h, no Monte Castelo. Ao todo 21 grupos de
zabumba vão se apresentar, dentre eles bois de São Luís e dos municípios
de Santa Helena, Pinheiro, Guimarães e São José de Ribamar.
O
Festival que tradicionalmente acontece no segundo sábado do mês de
julho, é muito aguardado por moradores e turistas, e movimenta várias
comunidades de São Luís. O evento acontece todos os anos na Avenida
Newton Belo e atravessa a noite, finalizando apenas às 9h da manhã de
domingo.
Nesta edição, com um atrativo a mais, o Festival de
Comédia, seu Basílio Costa Durans, presidente do Clube Cultural de Boi
de Zabumba e Tambor de Crioula do Maranhão, acredita que o evento tem
tudo para superar o público de 10 mil pessoas do ano passado. “As
pessoas esperam muito para ver toda a beleza dos bois de zabumba, um
sotaque que, graças a Deus tem muito reconhecimento de admiradores por
todo o Brasil. Esse evento atrai muitos turistas. Falta só ser
valorizado pelos órgãos públicos”, lamenta.
É da baixada que
vem o diferencial da edição deste ano. Os bois Orgulho de Pinheiro e o
bumba meu boi Capricho de União, de Santa Helena, são os convidados
especiais do Festival de Comédia, promovido pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-MA), que abre o
Festival de Zabumba.
“Dentro
do processo de instrução de salvaguarda do bumba-meu-boi há esse
planejamento. O que se observou foi uma preocupação forte dos próprios
boieiros pela não realização da comédia, que é algo específico dentro do
sotaque de Guimarães. Então, diante disso, vimos que o Festival de
Zabumba seria um ótimo espaço para essa experiência que não sabemos se
vai haver continuidade, porque leva em conta a disponibilidade das
pessoas para fazer a comédia, os palhaços, como eles chamam. Com isso
estamos tentando incentivar os grupos a fazeram isso também na capital”,
explica Izaurina Nunes, Técnica em Ciências Sociais do Iphan-MA.
Os
grupos do interior foram convidados por ser a região da baixada ainda a
única a realizar as comédias regularmente em suas apresentações. Em São
Luís esse tipo de performance é realizado mais durante a matança
(ritual da morte do boi).
Izaurina explica que as comédias não
são necessariamente a representação do auto do bumba-meu-boi com Pai
Francisco e Catirina. “Essas comédias são histórias que são criadas a
partir do roubo do boi. Eles tem uma liberdade muito grande para criar
em cima disso. Pode ser uma festa em que eles vão criando várias
histórias, inclusive com fatos do cotidiano, tendo como tônica o roubo
do boi”, exemplifica.
O roubo do boi e a festa de Pai Francisco
As
comédias ocorrem paralelamente à dança e à música executadas pelos
grupos de boi, uma espécie de teatro cômico popular que consiste na
encenação de pequenas tramas envolvendo temas, personagens e motivos de
escolha relativamente livre.
O Boi Orgulho de Pinheiro vem da
baixada trazendo a história de três palhaços que vivem uma verdadeira
aventura ao tentarem conseguir emprego em uma fazenda. Palhaçada, o
roubo de um boi e a saga para enterrar um morto permeiam a história que
será contada em 30 minutos. O Boi tem 32 anos de atividade e vem se
apresentar no Festival pela primeira vez com pelo menos 60 integrantes. A
comédia será encenada com 4 personagens. Os palhaços e o dono da
fazenda.
“Vai ser bom poder apresentar a nossa cultura, para
mostrar a comédia, já que é uma coisa que está acontecendo cada vez
menos. Os donos de arraiais não querem muito que a gente apresente, mas é
algo que é bom para manter a cultura do boi, contar as nossas
histórias”, afirma seu Walmir Moreira, dono do boi.
De Santa
Helena o boi Capricho de União, traz uma comédia com 8 personagens que
vão mostrar a festa do Pai Francisco com danças e coreografias
específicas. Esta será a primeira vez que o grupo também vem a São Luís
para o Festival, em 21 anos de atividade e 80 componentes. A história,
segundo Aldair José, o narrador, tem tudo para ser bem divertida e traz o
diferencial que são os bonecos gigantes confeccionados pela própria
comunidade.
“A gente vem com duas aves o urubu e o papagaio, três
esqueletos, que são bonecos gigantes e outros três comediantes. Vamos
mostrar um festa com a dança do Pai Francisco e as específicas, como do
urubu e do papagaio. Acho que vai ser uma ocasião especial apresentar
essa comédia, visto que a gente quase não apresenta mais”, comenta
Aldair.
Quatro perguntas//Basílio Durans
O que mudou nesses 20 anos de Festival?
São
duas décadas desde a primeira realização do Festival de Zabumba. De lá
para cá as mudanças vem ocorrendo gradativamente, mas a principal delas,
é o reconhecimento que o sotaque vem tendo. Antes quando a gente
chegava nos arraiais pouca gente ficava para assistir, e às vezes nem
éramos chamados. A partir do Festival nosso público cresceu. Significa
que o objetivo da formação de plateia foi cumprido.
E o Festival de Comédia é um incremento a mais?
Sim.
Essa foi uma ideia do Iphan e está dentro do processo de salvaguarda,
justamente para manter essa tradição que ta ficando esquecida. Este ano
estamos com os bois de Santa Helena e de Pinheiro que vão abrir o
Festival.
Quais os destaques da programação?
Depois
do Festival de Comédia teremos a apresentação do boi de Leonardo
abrindo a programação. Aí seguem as apresentações até as 9h do dia
seguinte, encerrando com o com o Boi Unidos Venceremos. O destaque é a
homenagem que fazemos todos os anos a alguém que fez ou faz história no
boi de zabumba. Este ano vamos homenagear Chico Coimbra falecido este
ano e que era do Boi de Leonardo e o cantador Ciriaco (Arrupiado),
também falecido, da famosa toada Pecado Capital, do boi de Leonardo.
O troféu é um atrativo para que os grupos comparecerem?
Sim.
Sempre damos os troféus de participação, mas os grupos fazem questão de
se fazer presente, se apresentar, fazer parte do encontro. Este ano
estamos marcando o
dia 29 de julho para entregar os troféus de
quem não puder esperar para receber no final da festa. Ele será entregue
na própria sede do Clube, na Liberdade, mas também será entregue ao
final do Festival.
Grupos Participantes
Bumba-meu-boi Orgulho de Pinheiro
Bumbamue-boi Capricho de União
Bumba-Meu-Boi Unidos Pela Fé
Bumba-Meu-Boi Laço do Amor
Bumba-Meu-Boi Mimo da Ilha
Bumba-Meu-Boi da Vila Passos
Bumba-Meu-Boi Brilho da Paz
Bumba-Meu-Boi Capricho do Oliveira
Bumba-Meu-Boi Boa Vontade
Bumba-Meu-Boi Capricho da Primavera
Bumba-Meu-Boi Dois Irmãos
Bumba-Meu-Boi Mimo de São João
Bumba-Meu-Boi Anjo do Meu Sonho
Bumba-Meu-Boi Novo Capricho
Bumba-Meu-Boi Sempre Seremos Unidos
Bumba-Meu-Boi de Zabumba Orquestrado
Bumba-Meu-Boi de Guimarães
Bumba-Meu-Boi Brilho de São João
Bumba-Meu-Boi de Leonardo
Bumba-Meu-Boi da Fé em Deus
Bumba-Meu-Boi Unidos Venceremos
Saiba Mais
No
âmbito do Inventário Nacional de Referências Culturais do Bumba-meu-boi
do Maranhão, realizado de 2001 a 2004 pelo Centro Nacional de Folclore e
Cultura Popular (sediado no Rio de Janeiro), foram registradas tantas
variações daquele relato quantas tramas criadas a partir de experiências
do presente ou do passado próximo dos brincantes, sem qualquer relação
evidente com o chamado “auto do boi”. Tais tramas, conhecidas como,
matanças, comédias, palhaçadas, doidices, morte-de-terreiro ou
morte-de-levantar, referem-se a fatos reais ou fictícios, ocorridos,
presenciados, imaginados ou sonhados no cotidiano dos brincantes,
principalmente no interior do Estado. Constituem pequenas histórias
cômicas elaboradas coletivamente pelos sujeitos associados na
brincadeira, embora a maior parte da atividade dramática seja
concentrada pelos personagens dos palhaços, conhecidos também como
palhaceiros, Pais Franciscos, Catirinas, chefes da matança ou da
palhaçada. São eles quem, de fato, selecionam, elaboram e executam as
performances a partir dos fatos, em alguma medida, experimentados pela
coletividade de que participam, atuando assim como espécies de
porta-vozes do grupo.
Fonte: INRC do Bumba-meu-boi. Texto da
antropóloga Luciana Carvalho, pesquisadora do Inventário Nacional de
Referências Culturais do Bumba-meu-boi do Maranhão (INRC).
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