sábado, 12 de julho de 2014

Zabumbada na Barrigudeira

Este ano o Festival de Bumba-meu boi de Zabumba vai abrir com duas comédias sobre o universo simbólico do bumba-meu-boi. Esta é uma das novidades para a vigésima edição do festival que se realizará neste sábado, 12, a partir das 20h, no Monte Castelo. Ao todo 21 grupos de zabumba vão se apresentar, dentre eles bois de São Luís e dos municípios de Santa Helena, Pinheiro, Guimarães e São José de Ribamar.

O Festival que tradicionalmente acontece no segundo sábado do mês de julho, é muito aguardado por moradores e turistas, e movimenta várias comunidades de São Luís. O evento acontece todos os anos na Avenida Newton Belo e atravessa a noite, finalizando apenas às 9h da manhã de domingo.
Nesta edição, com um atrativo a mais, o Festival de Comédia, seu Basílio Costa Durans, presidente do Clube Cultural de Boi de Zabumba e Tambor de Crioula do Maranhão, acredita que o evento tem tudo para superar o público de 10 mil pessoas do ano passado. “As pessoas esperam muito para ver toda a beleza dos bois de zabumba, um sotaque que, graças a Deus tem muito reconhecimento de admiradores por todo o Brasil. Esse evento atrai muitos turistas. Falta só ser valorizado pelos órgãos públicos”, lamenta.

É da baixada que vem o diferencial da edição deste ano. Os bois Orgulho de Pinheiro e o bumba meu boi Capricho de União, de Santa Helena, são os convidados especiais do Festival de Comédia, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-MA), que abre o Festival de Zabumba.





“Dentro do processo de instrução de salvaguarda do bumba-meu-boi há esse planejamento. O que se observou foi uma preocupação forte dos próprios boieiros pela não realização da comédia, que é algo específico dentro do sotaque de Guimarães. Então, diante disso, vimos que o Festival de Zabumba seria um ótimo espaço para essa experiência que não sabemos se vai haver continuidade, porque leva em conta a disponibilidade das pessoas para fazer a comédia, os palhaços, como eles chamam. Com isso estamos tentando incentivar os grupos a fazeram isso também na capital”, explica Izaurina Nunes, Técnica em Ciências Sociais do Iphan-MA.


Os grupos do interior foram convidados por ser a região da baixada ainda a única a realizar as comédias regularmente em suas apresentações. Em São Luís esse tipo de performance é realizado mais durante a matança (ritual da morte do boi).

Izaurina explica que as comédias não são necessariamente a representação do auto do bumba-meu-boi com Pai Francisco e Catirina. “Essas comédias são histórias que são criadas a partir do roubo do boi. Eles tem uma liberdade muito grande para criar em cima disso. Pode ser uma festa em que eles vão criando várias histórias, inclusive com fatos do cotidiano, tendo como tônica o roubo do boi”, exemplifica.


O roubo do boi e a festa de Pai Francisco
As comédias ocorrem paralelamente à dança e à música executadas pelos grupos de boi, uma espécie de teatro cômico popular que consiste na encenação de pequenas tramas envolvendo temas, personagens e motivos de escolha relativamente livre.

O Boi Orgulho de Pinheiro vem da baixada trazendo a história de três palhaços que vivem uma verdadeira aventura ao tentarem conseguir emprego em uma fazenda. Palhaçada, o roubo de um boi e a saga para enterrar um morto permeiam a história que será contada em 30 minutos. O Boi tem 32 anos de atividade e vem se apresentar no Festival pela primeira vez com pelo menos 60 integrantes. A comédia será encenada com 4 personagens. Os palhaços e o dono da fazenda.

“Vai ser bom poder apresentar a nossa cultura, para mostrar a comédia, já que é uma coisa que está acontecendo cada vez menos. Os donos de arraiais não querem muito que a gente apresente, mas é algo que é bom para manter a cultura do boi, contar as nossas histórias”, afirma seu Walmir Moreira, dono do boi.

De Santa Helena o boi Capricho de União, traz uma comédia com 8 personagens que vão mostrar a festa do Pai Francisco com danças e coreografias específicas. Esta será a primeira vez que o grupo também vem a São Luís para o Festival, em 21 anos de atividade e 80 componentes. A história, segundo Aldair José, o narrador, tem tudo para ser bem divertida e traz o diferencial que são os bonecos gigantes confeccionados pela própria comunidade.

“A gente vem com duas aves o urubu e o papagaio, três esqueletos, que são bonecos gigantes e outros três comediantes. Vamos mostrar um festa com a dança do Pai Francisco e as específicas, como do urubu e do papagaio. Acho que vai ser uma ocasião especial apresentar essa comédia, visto que a gente quase não apresenta mais”, comenta Aldair.


Quatro perguntas//Basílio Durans
O que mudou nesses 20 anos de Festival?
São duas décadas desde a primeira realização do Festival de Zabumba. De lá para cá as mudanças vem ocorrendo gradativamente, mas a principal delas, é o reconhecimento que o sotaque vem tendo. Antes quando a gente chegava nos arraiais pouca gente ficava para assistir, e às vezes nem éramos chamados. A partir do Festival nosso público cresceu. Significa que o objetivo da formação de plateia foi cumprido.


E o Festival de Comédia é um incremento a mais?
Sim. Essa foi uma ideia do Iphan e está dentro do processo de salvaguarda, justamente para manter essa tradição que ta ficando esquecida. Este ano estamos com os bois de Santa Helena e de Pinheiro que vão abrir o Festival.


Quais os destaques da programação?
Depois do Festival de Comédia teremos a apresentação do boi de Leonardo abrindo a programação. Aí seguem as apresentações até as 9h do dia seguinte, encerrando com o com o Boi Unidos Venceremos. O destaque é a homenagem que fazemos todos os anos a alguém que fez ou faz história no boi de zabumba. Este ano vamos homenagear Chico Coimbra falecido este ano e que era do Boi de Leonardo e o cantador Ciriaco (Arrupiado), também falecido, da famosa toada Pecado Capital, do boi de Leonardo.


O troféu é um atrativo para que os grupos comparecerem?
Sim. Sempre damos os troféus de participação, mas os grupos fazem questão de se fazer presente, se apresentar, fazer parte do encontro. Este ano estamos marcando o
dia 29 de julho para entregar os troféus de quem não puder esperar para receber no final da festa. Ele será entregue na própria sede do Clube, na Liberdade, mas também será entregue ao final do Festival.


Grupos Participantes
Bumba-meu-boi Orgulho de Pinheiro
Bumbamue-boi Capricho de União
Bumba-Meu-Boi Unidos Pela Fé
Bumba-Meu-Boi Laço do Amor
Bumba-Meu-Boi Mimo da Ilha
Bumba-Meu-Boi da Vila Passos
Bumba-Meu-Boi Brilho da Paz
Bumba-Meu-Boi Capricho do Oliveira
Bumba-Meu-Boi Boa Vontade
Bumba-Meu-Boi Capricho da Primavera
Bumba-Meu-Boi Dois Irmãos
Bumba-Meu-Boi Mimo de São João
Bumba-Meu-Boi Anjo do Meu Sonho
Bumba-Meu-Boi Novo Capricho
Bumba-Meu-Boi Sempre Seremos Unidos
Bumba-Meu-Boi de Zabumba Orquestrado
Bumba-Meu-Boi de Guimarães
Bumba-Meu-Boi Brilho de São João
Bumba-Meu-Boi de Leonardo
Bumba-Meu-Boi da Fé em Deus
Bumba-Meu-Boi Unidos Venceremos


Saiba Mais
No âmbito do Inventário Nacional de Referências Culturais do Bumba-meu-boi do Maranhão, realizado de 2001 a 2004 pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (sediado no Rio de Janeiro), foram registradas tantas variações daquele relato quantas tramas criadas a partir de experiências do presente ou do passado próximo dos brincantes, sem qualquer relação evidente com o chamado “auto do boi”. Tais tramas, conhecidas como, matanças, comédias, palhaçadas, doidices, morte-de-terreiro ou morte-de-levantar, referem-se a fatos reais ou fictícios, ocorridos, presenciados, imaginados ou sonhados no cotidiano dos brincantes, principalmente no interior do Estado. Constituem pequenas histórias cômicas elaboradas coletivamente pelos sujeitos associados na brincadeira, embora a maior parte da atividade dramática seja concentrada pelos personagens dos palhaços, conhecidos também como palhaceiros, Pais Franciscos, Catirinas, chefes da matança ou da palhaçada. São eles quem, de fato, selecionam, elaboram e executam as performances a partir dos fatos, em alguma medida, experimentados pela coletividade de que participam, atuando assim como espécies de porta-vozes do grupo.
Fonte: INRC do Bumba-meu-boi. Texto da antropóloga Luciana Carvalho, pesquisadora do Inventário Nacional de Referências Culturais do Bumba-meu-boi do Maranhão (INRC).

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