quarta-feira, 14 de maio de 2014

A palavra continua acesa - José Chagas



...Palavra quando acesa
Não queima em vão
Deixa uma beleza posta em seu carvão
E se não lhe atinge como uma espada
Peço não me condene oh minha amada
Pois as palavras foram pra ti amada... (trecho de Palavra Acesa)


Ontem o poeta José Chagas deixou este plano. Com um legado irretocável na literatura do Brasil, o poeta faleceu aos 89 anos. Para lembrá-lo já que ele foi imortalizado ao ser membro da Academia Maranhense de Letras, vou republicar uma matéria escrita por mim e que foi veiculada no Jornal O Imparcial em dezembro de 2013, quando ele foi homenageado com o CD  A palavra acesa de José Chagas, que contempla  parte de sua obra cantada nas vozes de grandes artistas da música brasileira. A obra primorosa e pensada em cada detalhe foi produzida por Celso Borges e Zeca Baleiro. O lançamento foi no dia 5 de dezembro, no Teatro da Cidade de São Luís (Centro).

Veja um trecho da reportagem
Nunca poesia e música estiveram tão próximas. Pois essas duas artes cuja linha é tênue se completam no CD  A palavra acesa de José Chagas. Paraibano de nascença, mas maranhense de coração, o poeta, que este ano completou 89 anos,  vai ter parte de sua obra cantada nas vozes de grandes artistas da música brasileira mesclando cantores  locais e nacionais.
Na ocasião do lançamento haverá uma audição com a presença dos artistas locais que participaram e do poeta, e a exibição de um vídeo de 15 minutos produzido por Zeca Baleiro a partir de uma entrevista que fez com José Chagas em 2006, e que será mostrada especialmente no projeto.  “Fiz essa entrevista em 2006. Ele tem um pensamento muito lúcido sobre a vida e a arte. E é um poeta profundo e sofisticado, por trás daquela sua aparente simplicidade”, conta Zeca Baleiro. .
Toda a concepção feita pelos produtores, cada qual em seu local de residência, demorou pelo menos um ano e meio para ser concluída. Segundo Zeca a gravação exigiu bastante trabalho. “Foi pauleira (risos). Muito trabalho. Por isso demoramos um ano e meio pra realizá-lo. Celso foi cuidando da produção em São Luís e eu por aqui. Mas conseguimos juntar um time da pesada, muito especial, que entrou no projeto com o coração e a alma inteiros”, revela Baleiro, que interpreta Palavra Acesa, música que foi trilha sonora da novela global Renascer (1993).
De acordo com Celso Borges o projeto  foi alimentado pela admiração que tanto ele, quanto Zeca tem pelo poeta. “Além disso, tenho um sentimento de amizade pela figura humana dele. O projeto foi concebido justamente nesse espírito de admiração e amizade, já que a produção não contou com patrocínio. Todos os artistas participaram de forma voluntária, abraçando o projeto por acreditar no que ele tem de verdadeiro e pela justa homenagem. É como a gente estivesse acendendo uma grande fogueira e dançasse em volta dela ao som e com o espírito da poesia de José Chagas. O que fizemos foi dar melodia à palavra acesa do poeta”, conta Celso. 
O disco reúne 14 poesias interpretadas por vários artistas, entre outros tantos (21) que estão envolvidos no projeto desde a autoria das composições, melodia e interpretação, como: Ale Muniz, Assis Medeiros, Beto Ehongue, Tássia Campos, Suzana Travassos, Toinho Alves, Celso Borges, Zeca Baleiro, César Teixeira, Chico César, Chico Saldanha, Dicy Rocha, Ednardo, Josias Sobrinho, Fagner, Márcia Castro, Nosly, Lula Queiroga, Silvério Pessoa, Fernando Filizola.
Trabalhar com tanta gente de diferentes localidades pediu um trabalho dobrado. Enquanto Celso ficava resolvendo as coisas em São Luís, Zeca tratava de outras em São Paulo. “A logística foi complicada, mas tivemos adesões de vários artistas não maranhenses que se encantaram com o projeto”, diz Zeca. “Claro que deu um trabalhão, mas foi muito prazeroso porque a gente contou com a generosidade e disposição de todos. Assis Medeiros, por exemplo, entregou a faixa praticamente pronta. Gravou e mixou no estúdio que tem na casa dele, em Brasília. César Teixeira, também, Beto Ehongue e Dicy, Zeca só teve que mixar e masterizar. A que fiz com Alê foi feita no estúdio dele também”, explica Celso.
César Teixeira que musicou Campoema do livro De lavra e de palavra, diz que fez a música e arranjos para outra pessoa cantar, e não imaginava que ele mesmo faria a interpretação. “Fiz uma toada sertaneja que representa bem o que diz o poema, uma vez que fala da vida dura da lavoura, das lembranças de quando ele vivia com a família na terra dele. Mas apesar de dolorosa a letra, a música não ficou tão pra  baixo”, conta.

Poeta-cantor - Natural da Paraíba, José Chagas, Membro da Academia Maranhense de Letras, se diz um maranhense de coração. Autor de mais de 20 livros, a maioria deles dedicada à cidade de São Luís, começou a escrever aos 5 anos por influência de cantadores e violeiros da terra dele e mora no Maranhão há mais de 50 anos. Entre as obras publicadas, estão Canhões do Silêncio, Colégio do Vento, Azulejos do Tempo Maré/Memória, Os Telhados, Apanhados do Chão.


Perguntas//Celso Borges/Zeca Baleiro

Em que momento foi idealizado o A Palavra Acesa?
Celso Borges - Há uns dois anos, eu conversando com Zeca surgiu a ideia de fazer uma homenagem ao Chagas, que é um poeta que a gente gosta muito. Discutimos um elenco de artistas e fomos fazendo aos poucos. Não é fácil porque cada um tem a sua agenda pessoal. 
Zeca Baleiro – Selecionamos alguns poemas e elegemos alguns artistas. Foi lento, demorado, mas muito prazeroso o processo de ver as canções nascendo, ganhando forma, arranjos e vozes várias.

O processo de gravação foi difícil?
CB - Nunca é fácil. Todo mundo tem a sua vida, seu trabalho e é preciso um tempo pra fazer a música, gravar etc. Faz parte de um processo. Zeca já tá acostumado com essa velocidade. Faz isso o tempo inteiro, depende de terceiros, da disponibilidade dos músicos, de estúdio. É um processo lento mesmo. Minha experiência na gravação do meu livro CD Música, que fiz em 2006, foi muito importante, porque me ensinou a não ter pressa, saber esperar. Mas, claro, sempre tem uma ansiedade incontrolável. Estamos muito felizes com o resultado.

Como foi a seleção dos poemas?
CB - Eu praticamente reli quase toda a obra de Chagas e escolhi trinta poemas. Aí entreguei uma opção de três para cada artista, que selecionou o seu. A única exceção foi César Teixeira que preferiu trabalhar um poema que ele gostava muito e que não estava na lista.
ZB - Celso, Andréa e eu selecionamos os poemas  e mandávamos sugestões para os compositores. Então eles ou compunham logo ou pediam uma segunda opção. Direcionamos meio ao acaso, na intuição. Mas no final deu tudo muito certo, o disco ficou lindo.

O que coube a cada um na produção?
CB - Eu escolhi os poemas e dividi essa escolha com o Zeca, participei da composição de duas melodias e cuidei da produção com os artistas locais. Minha mulher, a jornalista Andréa Oliveira, me ajudou muito nessa parte. Zeca fez a produção geral, compôs duas faixas e cuidou da participação dos artistas de fora de São Luís. Trocamos ideias o tempo todo até chegar ao resultado final.
ZB - Dividimos o processo de produção. Ele se encarregou de dirigir as gravações locais junto a compositores, intérpretes, arranjadores e músicos, e eu fiz o mesmo com os “forasteiros”.

O poeta já viu o trabalho?
CB - Ainda não, preferimos guardar a surpresa para uma audição conjunta quando o disco chegar. Fizemos uma visita a ele, que nos deu toda a liberdade para escolher repertório e até dar título a alguns poemas. Por exemplo: escolhemos vários do livro Os Canhões do Silêncio e demos nomes diferentes às músicas compostas.

Zeca você estará no lançamento?
Estou tentando remanejar uns compromissos pra ir. Adoraria estar presente, mas não sei se conseguirei. Estou muito ocupado no momento.

Como foi realizar esse trabalho?
CB - Uma alegria enorme. Adoro música e adoro poesia. E é uma honra dividir com o Zeca este tributo a um poeta que admiramos. Também foi um grande prazer contar com a generosidade e o talento dos artistas que participaram voluntariamente do projeto.
ZB - Pra mim foi um prazer enorme. O Chagas sempre foi um grande amigo da minha família, frequentava a casa dos meus tios Milton e Nair Ericeira, nos encontrávamos sempre, eu ainda adolescente. Ele é um lorde. E um poeta imenso.


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