quarta-feira, 27 de junho de 2012

Brilho e luxo no Encontro de Danças Encontro das Danças Portuguesas e Manifestações Culturais do Maranhão

A influência portuguesa está mais presente no Maranhão do que nunca nos festejos juninos. Nesse período  crianças, adolescentes e adultos vestem as riquíssimas roupas  da tradição portuguesa e enfeitam os arraiais com o brilho, a sedução e a beleza de Lisboa.  Há 11 anos essa tradição ficou mais forte com a realização do Encontro das Danças Portuguesas e Manifestações Culturais do Maranhão que este ano vai para a 12ª edição, dia 28, a partir das 18h, na Praça de São Roque, no bairro do Lira.

A festa começa dia 28, mas invade o dia seguinte com previsão de término às 10h da manhã, quando todos se encaminham para as homenagens à São Pedro na Capela da Madre Deus. O tradicional Encontro é realizado pela União Folclórica e Cultural Luso Brasileira da Maranhão e reúne mais de 80 grupos de danças Portuguesa, do Boiadeiro, Cacuriá, e Bumba-meu-boi, dentre outras atrações.

O evento que começou tímido, com apenas dez grupos, hoje tomou grandes proporções e é esperado ansiosamente pelos brincantes. No ano passado, segundo informações da organização o público presente foi de cinco mil pessoas. “Não dá para a gente estimar nem a participação do público e nem dos brincantes, porque são muitos, mas já temos confirmados, além dos nossos grupos cadastrados, danças de Matinha, Penalva, Itapecuru-Mirim, Rosário”, afirma o presidente da União, Clodenir Araújo, o Zeca da Cultura.

Dentre os objetivos da festa, a ideia é promover uma confraternização entre os grupos e o intercâmbio cultural entre as manifestações folclóricas existentes no Maranhão. “É o momento de eles trocarem experiências, se divertirem, é hora de congratulação”, resume Zeca.

A festa começa com o ato simbólico de abertura com a execução da toada Urrou do Boi, de Coxinho, que é o hino do folclore maranhense. A partir daí os grupos começam a se apresentar, por ordem de chegada, com duração de 5 minutos, e a festa prossegue com a chegada dos grupos de boi por volta das 6h da manhã. “É festa a noite e o dia inteiro”, comenta Zeca, completando que a programação por parte dos bois é em parceria com o Centro Comunitário Lírio de Santo Antônio.

Não há premiação em dinheiro, todos os grupos recebem uma placa simbólica de participação, mas  a disputa é acirrada quando se trata de coreografia e indumentárias. “É uma rivalidade saudável entre os grupos para saber quem está mais bem vestido, quem dança melhor”, completa Zeca.

A força da tradição – Nem sempre foi assim. Houve uma época em que as danças portuguesas estavam fadadas ao desaparecimento, pois corriam o risco de não receberem apoio dos gestores estaduais, ficando de fora da programação oficial. “Foi aí que o José Raimundo, que na época era deputado, criou a lei que obrigava a permanência dos grupos na programação do Estado”, conta Zeca.

Embora a importância da tradição seja reconhecida pelo público que aplaude os grupos, a União se ressente da pouca valorização da categoria pelo poder público. Segundo Zeca, ainda que a União tenha conquistado respeito pelo trabalho que realiza junto aos grupos, falta o reconhecimento financeiro. “Não há um devido valor para esse trabalho. Tanto é que quase ficamos de fora no começo de 2000 da programação do Governo. Foi por isso que resolvemos criar a União, para fortalecer as danças. E hoje as danças é que fazem a abertura dos arraiais”, afirma Zeca.

Logo no primeiro ano de criação da União já acontecia o primeiro Encontro que antes tinha maior participação de grupos de bumba-bois e agora, tem as danças como atrações principais.

Hoje, segundo a União surgem grupos a cada dia. Praticamente todos os bairros de São Luís tem de um a três grupos, mas o Bairro de Fátima é o local campeão de grupos folclóricos com cerca de 10. A maioria das danças, segundo a entidade, surgem de dissidências, às vezes para mostrar um certo poder, mas que no ano seguinte não se apresentam porque financeiramente é muito caro.

Amor pela dança – Que o diga o senhor Wagner Raimundo Vieira, presidente da dança portuguesa Mensageiro de Portugal do Bom Jesus, que também integra a União, foi um dos idealizadores, ao lado de Zeca, do Encontro. Sem revelar quanto custa manter uma dança, ele reconhece que os custos são muito altos e que o cachê que recebe dos órgãos públicos mal dá para vestir um dançarino. “Só um arco desses...”, diz ele reticente.

Há 16 anos ele mantém o grupo que hoje conta com 38 integrantes. “A paixão pela dança vem desde que a minha filha se apresentava. Daí ela começou a insistir para que eu botasse uma dança e eu fundei a Mensageiro. Gosto muito. Tenho o maior prazer de ver o grupo dançando, embora financeiramente seja muito caro”, diz Wagner.

Ao contrário de outros grupos que cobram as vestimentas, ou que fazem com  que o integrante confeccione a própria roupa, na Mensageiro de Portugal o brincante sai todo preparado sem gastar nada, segundo Wagner. O amor pela dança é mais forte e faz com que todo a família trabalhe em prol do grupo. A esposa de Wagner é que confecciona as roupas. “Lá em casa todo mundo trabalha”, diz ele.

A dedicação é tanta que todos os anos as roupas são diferentes, mais luxuosas ainda e começam a ser confeccionadas no mês de março. Já os ensaios começam ainda no ano anterior, no mês de outubro.

Foto: Reprodução/ThiagoVeloso

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