A influência portuguesa
está mais presente no Maranhão do que nunca nos festejos juninos. Nesse período
crianças, adolescentes e adultos vestem
as riquíssimas roupas da tradição
portuguesa e enfeitam os arraiais com o brilho, a sedução e a beleza de Lisboa.
Há 11 anos essa tradição ficou mais
forte com a realização do Encontro das Danças Portuguesas e
Manifestações Culturais do Maranhão que este ano vai para a 12ª edição, dia 28,
a partir das 18h, na Praça de São Roque, no bairro do Lira.
A festa começa dia 28, mas invade o dia seguinte com previsão de término às 10h da manhã, quando todos se encaminham para as homenagens à São Pedro na Capela da Madre Deus. O tradicional Encontro é realizado pela União Folclórica e Cultural Luso Brasileira da Maranhão e reúne mais de 80 grupos de danças Portuguesa, do Boiadeiro, Cacuriá, e Bumba-meu-boi, dentre outras atrações.
O
evento que começou tímido, com apenas dez grupos, hoje tomou grandes proporções
e é esperado ansiosamente pelos brincantes. No ano passado, segundo informações
da organização o público presente foi de cinco mil pessoas. “Não dá para a
gente estimar nem a participação do público e nem dos brincantes, porque são
muitos, mas já temos confirmados, além dos nossos grupos cadastrados, danças de
Matinha, Penalva, Itapecuru-Mirim, Rosário”, afirma o presidente da União,
Clodenir Araújo, o Zeca da Cultura.
Dentre
os objetivos da festa, a ideia é promover uma confraternização entre os grupos
e o intercâmbio cultural entre as manifestações folclóricas existentes no
Maranhão. “É o momento de eles trocarem experiências, se divertirem, é hora de
congratulação”, resume Zeca.
A
festa começa com o ato simbólico de abertura com a execução da toada Urrou do Boi, de Coxinho, que é o hino
do folclore maranhense. A partir daí os grupos começam a se apresentar, por
ordem de chegada, com duração de 5 minutos, e a festa prossegue com a chegada
dos grupos de boi por volta das 6h da manhã. “É festa a noite e o dia inteiro”,
comenta Zeca, completando que a programação por parte dos bois é em parceria
com o Centro Comunitário Lírio de Santo Antônio.
Não
há premiação em dinheiro, todos os grupos recebem uma placa simbólica de
participação, mas a disputa é acirrada
quando se trata de coreografia e indumentárias. “É uma rivalidade saudável
entre os grupos para saber quem está mais bem vestido, quem dança melhor”,
completa Zeca.
A força da tradição – Nem sempre foi
assim. Houve uma época em que as danças portuguesas estavam fadadas ao desaparecimento,
pois corriam o risco de não receberem apoio dos gestores estaduais, ficando de
fora da programação oficial. “Foi aí que o José Raimundo, que na época era
deputado, criou a lei que obrigava a permanência dos grupos na programação do
Estado”, conta Zeca.
Embora
a importância da tradição seja reconhecida pelo público que aplaude os grupos,
a União se ressente da pouca valorização da categoria pelo poder público.
Segundo Zeca, ainda que a União tenha conquistado respeito pelo trabalho que
realiza junto aos grupos, falta o reconhecimento financeiro. “Não há um devido
valor para esse trabalho. Tanto é que quase ficamos de fora no começo de 2000
da programação do Governo. Foi por isso que resolvemos criar a União, para
fortalecer as danças. E hoje as danças é que fazem a abertura dos arraiais”,
afirma Zeca.
Logo
no primeiro ano de criação da União já acontecia o primeiro Encontro que antes
tinha maior participação de grupos de bumba-bois e agora, tem as danças como
atrações principais.
Hoje,
segundo a União surgem grupos a cada dia. Praticamente todos os bairros de São
Luís tem de um a três grupos, mas o Bairro de Fátima é o local campeão de
grupos folclóricos com cerca de 10. A maioria das danças, segundo a entidade,
surgem de dissidências, às vezes para mostrar um certo poder, mas que no ano
seguinte não se apresentam porque financeiramente é muito caro.
Amor pela dança – Que o diga o senhor Wagner
Raimundo Vieira, presidente da dança portuguesa Mensageiro de Portugal do Bom
Jesus, que também integra a União, foi um dos idealizadores, ao lado de Zeca,
do Encontro. Sem revelar quanto custa manter uma dança, ele reconhece que os
custos são muito altos e que o cachê que recebe dos órgãos públicos mal dá para
vestir um dançarino. “Só um arco desses...”, diz ele reticente.
Há
16 anos ele mantém o grupo que hoje conta com 38 integrantes. “A paixão pela
dança vem desde que a minha filha se apresentava. Daí ela começou a insistir
para que eu botasse uma dança e eu fundei a Mensageiro. Gosto muito. Tenho o
maior prazer de ver o grupo dançando, embora financeiramente seja muito caro”,
diz Wagner.
Ao
contrário de outros grupos que cobram as vestimentas, ou que fazem com que o integrante confeccione a própria roupa,
na Mensageiro de Portugal o brincante sai todo preparado sem gastar nada,
segundo Wagner. O amor pela dança é mais forte e faz com que todo a família
trabalhe em prol do grupo. A esposa de Wagner é que confecciona as roupas. “Lá
em casa todo mundo trabalha”, diz ele.
A
dedicação é tanta que todos os anos as roupas são diferentes, mais luxuosas
ainda e começam a ser confeccionadas no mês de março. Já os ensaios começam
ainda no ano anterior, no mês de outubro.
Foto: Reprodução/ThiagoVeloso
Nenhum comentário:
Postar um comentário