Diego Janatã
O Centro Cultural Vale Maranhão
realizará, de 4 a 12 de setembro, a terceira edição do programa Indígenas.BR.
Este ano, as músicas indígenas são o destaque, com a exibição de videoclipes,
documentários, bate-papos, além de shows e materiais inéditos de dois povos do
Maranhão - os Kanela Ramkokamekrá e os Guajajara Tentehar - produzidos
especialmente para o festival.
O Indígenas.BR - Festival de Músicas
Indígenas contará ao todo com atrações de 16 povos diferentes, vindos das cinco
regiões do Brasil: os Guarani (SP); os Tikuna (AM), os Wapichana (RR), os Huni
Kuin (AC) os Kambeba e os Tupinambá (PA);
os Kaingang (SC); os Guarani Kaiowa (MS) e os Wauja e os Yawalapiti
(MT); os Kariri Xico, os Pankararu e os Fulni-ô (PE); e o povo Mapuche da
Bolívia.
Com curadoria da musicista e
pesquisadora Magda Pucci e da jornalista e poeta Renata Tupinambá, o festival
tem como objetivo difundir a pluralidade das produções musicais realizadas por
artistas indígenas de diferentes partes do país. “São estéticas que escapam da
nossa percepção rápida e fragmentada de mundo. São matrizes ancestrais de
centenas de povos que aqui viviam, muito antes da chegada dos europeus. Elas
vêm do Xingu, do Rio Solimões, das florestas do Acre, do sertão de Alagoas, dos
planaltos do Mato Grosso do Sul e de muitos outros cantos. Mas há, também,
músicas de hoje, criadas por jovens atentos às realidades atuais em movimentos
de luta por territórios, em conexão com linguagens contemporâneas como o rap,
hip hop e a música eletrônica. Tudo isso configura o cenário multifacetado da
música indígena no Brasil”, explica Magda.
O programa Indígenas.BR foi criado no
ano de 2019 e levou ao CCVM um mês de programação dedicada à cultura indígena,
com debates e exibição de filmes. No ano passado, por conta da pandemia, o
programa se adequou ao mundo virtual, com o lançamento do Prêmio de Fotografia
Indígenas.BR, recebendo mais de 100 inscrições de fotógrafos indígenas de todo
o Brasil. “O programa de arte, educação e cultura indígenas é um marco da
programação do CCVM. Todos os anos miramos um aspecto das culturas indígenas
para ser abordado, apresentando toda a diversidade de expressões dos povos
originários. Enaltecer esses saberes tão complexos e pouco conhecidos é de
extrema importância para repensar o mundo”, conta Gabriel Gutierrez, diretor do
Centro Cultural Vale Maranhão.
Gean Ramos
Programação
tem material inédito de povos maranhenses e dos Waujá do Xingu
Três documentários curtas-metragens
foram produzidos com exclusividade para o festival, registrando dois povos do
Maranhão: os Kanela Ramkokamekrá da Aldeia Escalvado, em Fernando Falcão -
terras indígenas Caru e Araribóia -, e dois grupos Guajajara Tentehar, de Lagoa
Quieta e de Maçaranduba.
O material é dirigido pela artista e
jornalista indígena Djuena Tikuna e pelo jornalista e músico Diego Janatã, que
há mais de dez anos trabalham no registro sobre a musicalidade indígena, em
especial da região Amazônica, destacando a sonoridade dos rituais de passagem e
das atividades político-culturais do movimento indígena.
Além da direção dos documentários,
Djuena participará de outros momentos do festival: em três rodas de conversa
sobre tradição e contemporaneidade, rituais e músicas e a presença indígena no
Maranhão; com o show inédito Os Cantos que acalentam os Encantados; e com o
videoclipe Tetchi'arü'ngu, feito em parceria com o DJ Eric Marky, que
atualmente desenvolve um trabalho de produção de música eletrônica e cantores
indígenas de diversos cantos do Brasil.
Outro material inédito que será
apresentado foi produzido pelo cineasta Takumã Kuikuro, que possui prêmios dos
festivais de Gramado e Brasília, e no Presence Autochtone de Terres em Vues, em
Montreal. Takumã realizou um registro inédito do músico e contador de histórias
Akari Waujá e seu grupo, na aldeia Waujá no Parque Xingu, situada no extremo
sul da bacia amazônica, em Mato Grosso, apresentando cantos do ritual da
mandioca de nome Kukuho.
O cantautor Gean Pankararu com sua
música autoral, a performer de origem Mapuche Brisa Flow, a MC feminista
Anaranda e Edvan Fulni-ô junto com Oz Guarani completam a lista de atrações
musicais.
Produção
audiovisual indígena no Brasil traz documentários e videoclipes ao festival
Somam-se às apresentações musicais,
mostras de documentários e videoclipes que reúnem filmes em destaque entre
produções indígenas no Brasil. Uma das atrações é o curta-metragem Nẽn Ga vī:
uma retomada kanhgág em movimento, de Paola Gibram e Nyg Kuitá Kaingang, que
mostra as reflexões dos kaingang contemporâneos sobre as usurpações culturais e
existenciais decorrentes dos anos de contato com não-indígenas e a necessidade
de se retomar as práticas e conhecimentos que lhes foram proibidos ou violados.
Outro filme que será exibido na mostra é
Espírito da Floresta, feito a partir de uma pesquisa de Ibã Sales, txana do
povo Huni Kuin. Na produção, os comentários aos cantos feitos por Ibã criam uma
narrativa que conecta imagem e música, além de retratar o surgimento do
coletivo MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin, grupo que ganhou os museus
do mundo e do Brasil.
O festival contará, ainda, com a
apresentação do trailer inédito da série de TV Sou moderno, sou índio, e a
exibição exclusiva e inédita do episódio Sou moderno, sou músico, de Carlos
Magalhães, que mostra o rap como uma das formas mais usadas de comunicação
indígena na atualidade. Completam a programação os filmes Iburi – trompete
Tikuna de Edson Matarezio e Nhandesy de Graciela Guarani.
Na mostra de videoclipes, será exibido
ORE MBORAI - Orquestra Multiétnica, o encontro inédito de mais de 100 indígenas
de nove povos distintos, que produziu um diálogo artístico potente e
transformador no Encontro de Culturas da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.
Também se destacam Cuara çu, da poetisa e compositora Marcia Kambeba; o vídeo
Resistência Nativa, que reúne os rappers Brô MCs, Oz Guarani e Kunumi MC com
participação do escritor Olívio Jekupé; o registro de uma apresentação dos
Kariri Xocó, em parceria com a cantora e rabequeira Renata Rosa; dois vídeos
feitos por Alfredo Bello (DJ Tudo) de trechos da Corrida do Umbu dos Pankararu,
em Brejo dos Padres; e o videoclipe Rapé de DJ Nelson D, em parceria com o VJ
Soave.
Durante todos os dias, após as exibições
audiovisuais, serão realizados bate-papos
com os artistas participantes do festival, sobre temas relacionados ao
universo musical indígena brasileiro. Toda a programação poderá ser assistida
pelo canal do Youtube do Centro Cultural Vale Maranhão (www.youtube.com/centroculturalvalemaranhao). Confira a programação completa no site do Cenro Cultural.
Programação
Dia 04/09 – sábado – 19h
Mostra de documentários
– Música é arma de luta – Direção: Carou
Trebitsch, Idjahure Kadiwéu. Lucas Canavarro e Nana Orlandi – 2021
Bate-papo com as curadoras Magda Pucci e
Renata Tupinambá sobre a programação e o diretor do documentário Música é arma
de luta, Idjahure Kadiwéu
Dia
05/09 – domingo – 19h
Mostra de videoclipes
- Cuara çu - Marcia Kambeba
- Tetchi'arü'ngu - Djuena Tikuna e DJ
Eric Marky
Mostra de documentários
– Tupinambá - O grito ancestral no
Tapajós
Show
- Os Cantos que acalentam os Encantados*
- Djuena Tikuna
Bate-papo
Trânsitos entre a tradição e a
contemporaneidade - Djuena Tikuna, Gean
Pankararu e Marcia Kambeba. Mediação: Brisa Flow