segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Coletivo Linhas e Drao Arte realizam Projeto Casas


Casas é uma residência artística e uma intervenção política na cidade de Alcântara, ao norte do Maranhão. Um projeto do Coletivo Linhas que registra a liderança feminina pela criatividade no manuseio de tecnologia tradicional e suas narrativas de vida e existência comunitária em Santa Maria, comunidade quilombola.

O Linhas é tecido por 7 artistas. Quatro delas integram a ação do projeto Casas em Alcântara. Na comunidade, são mais de 20 artesãs na produção de tecelagem, organizadas em sistema de associação comunitária. Em doze dias de residência artística, as artistas do Coletivo vão conviver com as mulheres de Santa Maria. Uma troca de saberes, sentidos, vivências e formas de tecer que resultará em registros audiovisuais, depoimentos transcritos e oito flâmulas em fibra de buriti levantadas em fachadas de moradias na principal rua de acesso da cidade de Alcântara, a ladeira do Jacaré.

Até o instante dos primeiros encontros com a comunidade, o Coletivo Linhas sempre havia usado a técnica do croché para realizar intervenções artísticas urbanas. A novidade nesta ação é a substituição da linha pela fibra natural do buriti como possibilidade ao grupo. Uma possibilidade não só de recurso, um convite ao tear de tradições, criatividade, sustentabilidade e ritualísticas. 

“A possibilidade de uso da fibra do buriti como recurso não somente estético mas de intervenção urbana, ecológica e sustentável, que prima pela preservação do patrimônio ambiental, se tornou uma possibilidade interessante e inédita até então para o Coletivo Linhas. A residência do Coletivo se propõe a isso: entrar na comunidade e sentir os relatos das mulheres, especialmente pela postura frente a um modo de vida que tem no coletivo, na convivência em comum, a defesa pelo território e a beleza em habitar uma realidade sempre partilhada com respeito à natureza”, pontua Camila Grimaldi, idealizadora do projeto e integrante do Linhas.

“O meu olhar inicial foi tomado pela vibração do encontro. Ao adentrar na sede percebi como aquele lugar é habitado afetuosamente, alguns produtos expostos, as mulheres, juntamente com seu Branco – um dos poucos homens envolvidos na tecelagem –, próximas do maquinário que exige muito das manualidades. Compreendi a sede como uma casa, que respira energia, garra e vontade que unem essas mulheres no tecer dos dias em Santa Maria. Foi observando esse ajuntamento que percebi as várias camadas e vivências que envolvem o novelo de fibra de buriti. Compostas pelas narrativas de vida, saberes envolvidos, interesse de criar em outros formatos, os rituais do tecer, bem como o desejo de dar outros sentidos para o fazer que unem e sustentam essas mulheres de fibra”, anota Danielle Souza, integrante do Linhas.

A cidade de Alcântara não se limita à região do centro histórico da cidade. O território municipal é habitado por centenas de comunidades quilombolas. Em Santa Maria são mais de 90 famílias de gerações que atravessaram o tempo com tradições culturais e vínculo de proteção da biodiversidade desta região. Permanência ameaçada pela desapropriação de direitos, com a ampliação do Centro de Lançamento Espacial. 

A técnica do tear com fibra de buriti chegou às mulheres da comunidade por meio de migrantes da região de Tutóia, no Maranhão. Elas assimilaram o modo de fazer e tornaram a produção manufatureira uma possibilidade econômica. Os produtos fabricados pelas artesãs chegam a diferentes partes do estado e do país.

“É um aprendizado contínuo. A maioria aprendeu a tear com as mães, com as avós. Uma técnica que tem o movimento da repetição. Elas receberam a ideia do croché com empolgação, pela ideia de tecer livremente, sem um desenho padrão, pelo exercício da criatividade”, lembra Márcia de Aquino, integrante do Linhas.

A intervenção CASAS será realizada no período de 09 de dezembro de 2020 a 09 de janeiro de 2021 a céu aberto na ladeira do Jacaré. São 8 flâmulas de 45 centímetros de largura e 2,5 metros de altura. Grandes bandeiras em  buriti de uma pátria afetiva, feita por mãos negras, incluindo um dos poucos homens da comunidade.

O projeto é uma proposta coletiva, assinada pelo Coletivo Linhas em cooperação com as artesãs da comunidade de Santa Maria. Os fragmentos dos depoimentos anotados ficarão expostos em cavaletes ao lado de cada flâmula. São o registro de memórias e de resistências de mulheres que aprenderam a dar o nó da intimidade e a construir a política da coexistência e interdependência ambiental e afetiva. Tramas alinhavadas no reconhecimento, valoração, empoderamento. Assinaturas biográficas do existir feminino na fibra e na cidade.  


Fonte: Assessoria de Comunicação


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