sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Produção musical indígena é destaque da terceira edição do Indígenas.BR

 


 

                                                                                                                                 Diego Janatã

O Centro Cultural Vale Maranhão realizará, de 4 a 12 de setembro, a terceira edição do programa Indígenas.BR. Este ano, as músicas indígenas são o destaque, com a exibição de videoclipes, documentários, bate-papos, além de shows e materiais inéditos de dois povos do Maranhão - os Kanela Ramkokamekrá e os Guajajara Tentehar - produzidos especialmente para o festival.

O Indígenas.BR - Festival de Músicas Indígenas contará ao todo com atrações de 16 povos diferentes, vindos das cinco regiões do Brasil: os Guarani (SP); os Tikuna (AM), os Wapichana (RR), os Huni Kuin (AC) os Kambeba e os Tupinambá (PA);  os Kaingang (SC); os Guarani Kaiowa (MS) e os Wauja e os Yawalapiti (MT); os Kariri Xico, os Pankararu e os Fulni-ô (PE); e o povo Mapuche da Bolívia.

Com curadoria da musicista e pesquisadora Magda Pucci e da jornalista e poeta Renata Tupinambá, o festival tem como objetivo difundir a pluralidade das produções musicais realizadas por artistas indígenas de diferentes partes do país. “São estéticas que escapam da nossa percepção rápida e fragmentada de mundo. São matrizes ancestrais de centenas de povos que aqui viviam, muito antes da chegada dos europeus. Elas vêm do Xingu, do Rio Solimões, das florestas do Acre, do sertão de Alagoas, dos planaltos do Mato Grosso do Sul e de muitos outros cantos. Mas há, também, músicas de hoje, criadas por jovens atentos às realidades atuais em movimentos de luta por territórios, em conexão com linguagens contemporâneas como o rap, hip hop e a música eletrônica. Tudo isso configura o cenário multifacetado da música indígena no Brasil”, explica Magda.

O programa Indígenas.BR foi criado no ano de 2019 e levou ao CCVM um mês de programação dedicada à cultura indígena, com debates e exibição de filmes. No ano passado, por conta da pandemia, o programa se adequou ao mundo virtual, com o lançamento do Prêmio de Fotografia Indígenas.BR, recebendo mais de 100 inscrições de fotógrafos indígenas de todo o Brasil. “O programa de arte, educação e cultura indígenas é um marco da programação do CCVM. Todos os anos miramos um aspecto das culturas indígenas para ser abordado, apresentando toda a diversidade de expressões dos povos originários. Enaltecer esses saberes tão complexos e pouco conhecidos é de extrema importância para repensar o mundo”, conta Gabriel Gutierrez, diretor do Centro Cultural Vale Maranhão.

                                                                                                                             Gean Ramos

 Programação tem material inédito de povos maranhenses e dos Waujá do Xingu

Três documentários curtas-metragens foram produzidos com exclusividade para o festival, registrando dois povos do Maranhão: os Kanela Ramkokamekrá da Aldeia Escalvado, em Fernando Falcão - terras indígenas Caru e Araribóia -, e dois grupos Guajajara Tentehar, de Lagoa Quieta e de Maçaranduba.

O material é dirigido pela artista e jornalista indígena Djuena Tikuna e pelo jornalista e músico Diego Janatã, que há mais de dez anos trabalham no registro sobre a musicalidade indígena, em especial da região Amazônica, destacando a sonoridade dos rituais de passagem e das atividades político-culturais do movimento indígena.

Além da direção dos documentários, Djuena participará de outros momentos do festival: em três rodas de conversa sobre tradição e contemporaneidade, rituais e músicas e a presença indígena no Maranhão; com o show inédito Os Cantos que acalentam os Encantados; e com o videoclipe Tetchi'arü'ngu, feito em parceria com o DJ Eric Marky, que atualmente desenvolve um trabalho de produção de música eletrônica e cantores indígenas de diversos cantos do Brasil.

Outro material inédito que será apresentado foi produzido pelo cineasta Takumã Kuikuro, que possui prêmios dos festivais de Gramado e Brasília, e no Presence Autochtone de Terres em Vues, em Montreal. Takumã realizou um registro inédito do músico e contador de histórias Akari Waujá e seu grupo, na aldeia Waujá no Parque Xingu, situada no extremo sul da bacia amazônica, em Mato Grosso, apresentando cantos do ritual da mandioca de nome Kukuho.

O cantautor Gean Pankararu com sua música autoral, a performer de origem Mapuche Brisa Flow, a MC feminista Anaranda e Edvan Fulni-ô junto com Oz Guarani completam a lista de atrações musicais.

 Produção audiovisual indígena no Brasil traz documentários e videoclipes ao festival

Somam-se às apresentações musicais, mostras de documentários e videoclipes que reúnem filmes em destaque entre produções indígenas no Brasil. Uma das atrações é o curta-metragem Nẽn Ga vī: uma retomada kanhgág em movimento, de Paola Gibram e Nyg Kuitá Kaingang, que mostra as reflexões dos kaingang contemporâneos sobre as usurpações culturais e existenciais decorrentes dos anos de contato com não-indígenas e a necessidade de se retomar as práticas e conhecimentos que lhes foram proibidos ou violados.

Outro filme que será exibido na mostra é Espírito da Floresta, feito a partir de uma pesquisa de Ibã Sales, txana do povo Huni Kuin. Na produção, os comentários aos cantos feitos por Ibã criam uma narrativa que conecta imagem e música, além de retratar o surgimento do coletivo MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin, grupo que ganhou os museus do mundo e do Brasil.

O festival contará, ainda, com a apresentação do trailer inédito da série de TV Sou moderno, sou índio, e a exibição exclusiva e inédita do episódio Sou moderno, sou músico, de Carlos Magalhães, que mostra o rap como uma das formas mais usadas de comunicação indígena na atualidade. Completam a programação os filmes Iburi – trompete Tikuna de Edson Matarezio e Nhandesy de Graciela Guarani.

Na mostra de videoclipes, será exibido ORE MBORAI - Orquestra Multiétnica, o encontro inédito de mais de 100 indígenas de nove povos distintos, que produziu um diálogo artístico potente e transformador no Encontro de Culturas da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Também se destacam Cuara çu, da poetisa e compositora Marcia Kambeba; o vídeo Resistência Nativa, que reúne os rappers Brô MCs, Oz Guarani e Kunumi MC com participação do escritor Olívio Jekupé; o registro de uma apresentação dos Kariri Xocó, em parceria com a cantora e rabequeira Renata Rosa; dois vídeos feitos por Alfredo Bello (DJ Tudo) de trechos da Corrida do Umbu dos Pankararu, em Brejo dos Padres; e o videoclipe Rapé de DJ Nelson D, em parceria com o VJ Soave.

Durante todos os dias, após as exibições audiovisuais, serão realizados bate-papos  com os artistas participantes do festival, sobre temas relacionados ao universo musical indígena brasileiro. Toda a programação poderá ser assistida pelo canal do Youtube do Centro Cultural Vale Maranhão (www.youtube.com/centroculturalvalemaranhao). Confira a programação completa no site do Cenro Cultural. 

 

Programação

Dia 04/09 – sábado – 19h

Mostra de documentários

– Música é arma de luta – Direção: Carou Trebitsch, Idjahure Kadiwéu. Lucas Canavarro e Nana Orlandi – 2021

Bate-papo com as curadoras Magda Pucci e Renata Tupinambá sobre a programação e o diretor do documentário Música é arma de luta, Idjahure Kadiwéu

Dia 05/09 – domingo – 19h

Mostra de videoclipes

- Cuara çu - Marcia Kambeba

- Tetchi'arü'ngu - Djuena Tikuna e DJ Eric Marky

Mostra de documentários

– Tupinambá - O grito ancestral no Tapajós

 

Show

- Os Cantos que acalentam os Encantados* - Djuena Tikuna

Bate-papo

Trânsitos entre a tradição e a contemporaneidade - Djuena Tikuna,  Gean Pankararu e Marcia Kambeba. Mediação: Brisa Flow

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