Vai ter bumba-meu-boi nas Olimpíadas do
Rio de Janeiro em agosto e será do
sotaque de baixada. O Boi Unidos de Santa Fé será o representante da nossa
cultura popular levando o legítimo folclore maranhense para o público em geral.
Zé Olhinho, amo do boi, que já teve tantos momentos marcantes dentro da cultura
popular, agora aguarda com ansiedade mais esse marco para o Boi Unidos de Santa
Fé: apresentar a sua música, seu ritmo e
a magia do bumba-meu- boi para o mundo.
“Da cultura popular da região Nordeste somente
o boi de Santa Fé e um grupo de Pernambuco (com o projeto Clube Carnavalesco
Mixto Seu Malaquias Frevando Nas Olimpíadas) foram selecionados. A gente só tem
é que trabalhar para apresentar bonito nosso folclore e pra ver se a gente
consegue o recurso para levar os integrantes”, comenta Zé Olhinho.
A Associação que representa o boi
participou de um edital do Ministério da
Cultura, a Mostra Funarte de Festivais – Circo, Dança e Teatro e Circuito Funarte
Cena Pública.
Com recursos do Ministério da Cultura (MinC), ambos visam promover a cultura
nacional por meio de programação artística em equipamentos da Funarte e em
espaços públicos abertos no período dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016.
Depois de cumprir com várias exigências
do edital o projeto do Boi, Arte Popular
do Maranhão e a Encenação do Auto do Bumba-meu-Boi foi selecionado para
participar da programação artística das Olimpíadas e já está credenciado para
tal.
“Acho que o trabalho que o Boi desenvolve há
quase trinta anos, os nossos discos, nossas indumentárias, enfim, o trabalho e
o reconhecimento que temos dentro da cultura popular somaram pontos para a
gente”, avalia Zé Olhinho sobre o processo de escolha.
Além de ter feito uma toada exclusiva
com o tema das Olímpiadas, o boi terá que encenar o auto do bumba-meu-boi.
Quarenta e cinco integrantes estão se preparando para as apresentações nas
cidades de Belo Horizonte (MG) e São Paulo (SP). Em Belo Horizonte, o grupo
será recebido na Praça da Estação, nos dias 3 e 4 de agosto, a partir das 20h.
Nos dias 5, 6 e 7 de agosto, o Boi vai para São Paulo, onde os brincantes se
apresentarão no Morro do Querosene, tradicional reduto da arte e cultura popular
brasileira.
O edital Circuito Funarte Cena Pública contemplou 10
projetos, com premiação de R$ 100 mil para cada selecionado. Entre os dias 3 e
20 de agosto, cada selecionado vai promover a circulação de espetáculos,
performances cênicas ou intervenções em espaços públicos abertos em duas das
cidades onde serão disputadas partidas de futebol durante os jogos – Belo
Horizonte, Brasília, Manaus, Salvador e São Paulo. O investimento total é de R$
1,1 milhão. O principal objetivo deste edital é valorizar e fomentar a arte de
rua e o uso dos espaços públicos.
Os
festejos juninos
Apesar de lamentar a redução de
apresentações em espaços públicos em comparação ao ano passado, Zé Olhinho
avalia que a temporada junina deste ano foi bem positiva. Ele destaca
inclusive, uma participação da cantora Rita Benneditto em uma apresentação na praça
Maria Aragão onde cantaram juntos a toada Guerreiro
Valente. A parceria fará parte do documentário
Encantos, que conta a trajetória e as raízes maranhense de Rita
Benneditto. O DVD deverá ser lançado em
breve.
“A
irmã dela entrou em contato conosco pra gente acertar a parceria e nós
combinamos, acertamos como seria. Foi muito bonito, ela é uma grande artista,
muito carismática, e nós tivemos o maior prazer de cantar juntos. Isso só vem a
enaltecer a cultura da nossa gente”, comenta Zé Olhinho.
28 anos de estrada
O Boi Unidos de Santa Fé, antes Boi de
Pindaré 2, já existe há 28 anos e tem a
sede situada no Bairro de Fátima. Além de Zé Olhinho, o grupo é coordenado por
Raimundo Miguel Ferreira e João Madeira Ribeiro.
Atualmente 18 membros compõem a
diretoria, 40 integrantes no cordão, 25 Índios, 35 Índias, 50 Cazumbás, 20
Batuqueiros e um atuante grupo de apoio de aproximadamente 25 pessoas.
Referência para o Bairro de Fátima, onde
a brincadeira nasceu e tem sede, o Boi
Unidos de Santa Fé possui 6 CDs gravados e têm destacada atuação nas
festividades culturais do Estado, muito requisitado para apresentações em
arraiais públicos e particulares, levando a beleza de seu espetáculo, onde a
batida dos pandeirões são fortes e vibrantes, soando com altivez, harmoniosas
toadas.
No começo, os 45 brincantes se reuniam
no Barracão da Escola de Samba Unidos de Fátima, que foi cedido pelo diretor da
escola até que o grupo adquirisse uma sede própria. “E a gente recebe muita
gente daqui e de fora querendo conhecer o boi, então agora juntamos um dinheirinho
e reformamos a nossa sede, porque os visitantes merecem encontrar um lugar
agradável e acolhedor”, diz com a simpatia de sempre o amo do Boi Unidos de
Santa Fé.
O
amo do boi
Nascido em 1943 no município de São
Vicente de Férrer, na baixada maranhense, José de Jesus Figueiredo, Zé Olhinho,
mora em São Luís desde os anos 50.
É aposentado pelo Sindicato dos
Arrumadores de São Luís, atividade que exerceu por mais de 20 anos e lhe deixou
como herança sérios problemas de coluna envolvendo hérnia de disco. Herdou do
Pai, o gosto da “'boiada”.
Foi no início da década de 1960 que começou
a frequentar as atividades do Bumba-Meu-Boi de Pindaré, um dos primeiros a se
organizar na capital maranhense. Em 1987, motivado por questões internas do Boi
de Pindaré, desligou-se oficialmente do mesmo e montou, em conjunto com dois
amigos, o Pindaré 2, para dois anos mais tarde firmar-se como o atual
Bumba-Meu-Boi Unidos de Santa Fé. Zé Olhinho em sua oralidade requisitada,
palavreia de única maneira em relação a esta questão histórica, enfatizando que
saiu de um boi de grande porte, para montar uma boiada do seu jeito, e que esta
também teria que ser grande.
O amo diz que reverte para o boi tudo o
que a brincadeira aglutina em forma de recursos, seja humanos ou financeiros e
talvez por isso seja reconhecido e tratado como mestre. “Eu só faço o que tem quer ser feito.
Em nenhum momento penso só em mim. Penso no grupo, no boi, nas pessoas”,
reflete.
Foto: oimparcial.com.br
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