Quem escreve cartas de amor numa sociedade em que se manda nudes? O que é escrever uma carta de amor nos anos 10? Foi pensando nisso que o escritor Bruno Azevêdo decidiu publicar Gabriela, carta de amor que escreveu (e enviou) há um ano. A obra será lançada nesta quinta-feira, 23, no Chico Discos (Centro), às 20h.
O poeta português Fernando pessoa escreveu certa vez que todas as cartas de amor são ridículas, no que provavelmente é seu mais famoso verso. Pouco antes, numa carta à sua amada Ophélia de Queiroz, disse que “para me mostrar o seu desprezo ou, pelo menos, sua indiferença real, não era preciso o disfarce transparente de um discurso tão comprido”, mostrando que mesmo o papa do negócio não escapava do drama quando um certo alguém lhe despertasse o sentimento.
Pessoa é um entre vários missivistas famosos que meteram pelas mãos os pés num enlace; desde que o mundo é mundo se escreve cartas de amor, de João Bidu a James Joyce, do Mensageiro do Amor a André Gorz -- que se matou com a esposa após escrever para ela um monumento --, ou Graciliano Ramos, que deixou de mão a sisudez pra, em oito cartas, conquistar o cora-ção da jovem Heloísa, nos anos 1920.
Mas e hoje?
Gabriela, parte de uma experiência real do autor, que juntou retratos de anônimos em Salvador para compor uma carta: “a ideia era ver como os retratos, coisa que eu tenho feito muito desde o Ostreiros, funcionariam pra falar a alguém”, comentou.
O resultado é um livro em papeis coloridos, costurado artesanalmente, com um envelope que imita antigos expressos aéreos, lançado na Flip (Festa Literária de Paraty, RJ) na última semana de julho. A tiragem artesanal é de 200 exemplares.
Para o autor, escrever e publicar uma carta de amor hoje é recuperar algo muito antigo e em desuso, sobretudo quando as possibilidades do mundo digital alteram cada vez mais as formas de interação humana.
Gabriela, inicia um projeto editorial maior, em que o escritor traz à baila cartas de amor escritas por anônimos. As correspondências foram encontradas em arquivos pessoais. Para Bruno Azevêdo, que também é historiador, “embora formulaicas, cartas de amor dizem muito sobre a sociedade nas quais foram escritas”.
Serviço
Lançamento de “Gabriela,” novo livro de Bruno Azevêdo
Quando: Quinta, 23 de agosto, às 20h
Onde: Chico Discos, Rua dos Afogados, 387 - Centro
Programação: Leitura do livro e outras cartas, além de discotecagem de vinis.
Extra: Gabriela, já está disponível na livraria AMEI (São Luís Shopping) e no site da editora (www.pitomba.iluria.com)
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