POR
ZEMA RIBEIRO
Cada disco de Claudio Lima é
único. O artista não repete fórmulas, se arrisca, ousa, nunca se acomoda em uma
zona de conforto. É um dos mais talentosos cantores brasileiros em atividade. A
cada disco, cuida de cada detalhe: da seleção de repertório – só canta o que
lhe emociona – ao projeto gráfico: artista talentoso também nessa seara, já
emprestou seus dotes a discos de Bruno Batista e Cecília Leite.
Isto talvez explique o grande
intervalo entre um trabalho e outro: cinco anos de Claudio Lima (2001), a estreia, a Cada mesa é um palco (2006), dividido com Rubens Salles, pianista
baiano radicado nos Estados Unidos, e mais de 10 entre o segundo e este Rosa dos Ventos (2017), que lançará em
show no próximo dia 27 de maio (sábado), às 20h30, no Cine Teatro da Cidade de
São Luís (antigo Cine Roxy, Rua do Egito, Centro) – os ingressos custam R$
20,00, à venda na Livraria Leitura (São Luís Shopping); no dia do espetáculo,
R$ 30,00, na bilheteria do teatro.
A história de Rosa dos Ventos, o disco, começa em
2012, quando Claudio Lima levou para casa o troféu de melhor intérprete no
Festival Viva 400 Anos de Música Popular, que celebrou os 400 anos de fundação
da capital maranhense. A composição de Bruno Batista, que gravou-a em seu Lá (2013), levou a estatueta de melhor
música e com o dinheiro do prêmio, Claudio Lima começou a arquitetar o novo
álbum, cuja realização se completou com o patrocínio do Centro Elétrico através
da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.
Em Rosa dos ventos o artista debuta como compositor: sozinho ou em
parceria, assina metade das 14 faixas, alicerçadas pelas bases eletrônicas de
Eduardo Patrício, com quem divide a produção musical. A ele, com seus loops,
efeitos sonoros, sintetizadores, baixo, marimba e programação de xilofone, somam-se
João Simas (guitarra, baixo, teclado e loops de bateria), Pablo Habibe
(guitarra e violão), Rui Mário (sanfona, piano e violoncelo), Roberto Chinês
(cavaquinho e bandolim) e João Neto (flauta).
Há poema de Walquiria Almeida
musicado (Não seja burra baby),
versão de Franz Schubert (Der wegweiser
virou Caminhos ocultos), o funk Não sou refém da maioria, cuja mensagem
pode ser uma espécie de cartão de visitas do cantor, além de parcerias com
Mário Tommazo (Parapapá e Melodia sentimental) e Marcos Tadeu (Só me resta regar tuas petúnias e Falta flauta).
Antenado, Claudio Lima reúne ao
menos três gerações de compositores maranhenses na ativa, atestando a si mesmo
como um “pescador de pérolas”, expressão que não à toa já intitulou disco de
outro grande cantor brasileiro.
Rosa
dos ventos abre e fecha com o olhar poético sui generis de Celso
Borges sobre a cultura popular e a capital maranhense: a toada Boi tarja preta (parceria com Alê
Muniz), em que dessacraliza o bumba meu boi, e a pedra de responsa São Luís (Variações líricas a partir de uma
abertura de programa de reggae), versão para o clássico Shaperville, de Michael Riley.
Margos Magah também comparece
com duas músicas ao repertório: Salomé
minha dor (parceria com o poeta Fernando Abreu) e Nem os cadáveres sobreviverão (com Acsa Serafim), ambas já testadas
(e aprovadas pelo público) em shows de Claudio Lima. Quem também lhe fornece um
par de pepitas é Bruno Batista: Esmolas
e a faixa-título. O repertório se completa com o samba Pingão, de Tiago Máci, recheado de ludovicensidade, crítica social
e fina ironia.
Claudio Lima faz música e é
impossível rotulá-lo além disso. Sobre a demora deste Rosa dos Ventos o que se pode dizer é que valeu a pena esperar. Ele
afirma já ter repertório e já estar trabalhando no próximo disco, mas a letra
de Não sou refém da maioria pode
responder a eventuais cobranças mais apressadas: “não me queiram enquadrar/ em
nenhum padrão vulgar/ onde eu tenha que concordar/ o meu molde se quebrou”.
Não é apenas cada disco de
Claudio Lima que é único: ele próprio o é.
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